Google prometeu combater desinformação climática e mentiu, mostra novo relatório

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Enquanto o Brasil discute uma lei para limitar a circulação de conteúdo nocivo nas redes sociais, um novo relatório mostra como o Youtube, da empresa Google, ignorou suas próprias regras de uso para continuar lucrando com informação mentirosa sobre a mudança climática. O estudo foi divulgado com exclusividade hoje (2) pelo New York Times

De acordo com a coalizão Climate Action Against Disinformation (CAAD) e o Center for Countering Digital Hate (CCDH), o conteúdo enganoso que obteve milhões de visualizações continua circulando de maneira irrestrita. 

Entre 200 vídeos analisados, metade violou a política de desinformação climática do próprio Google, somando pelo menos 18 milhões de visualizações. Além disso, 100 vídeos continham desinformação climática que não se enquadravam na definição restrita do Google, mas atendiam à definição de desinformação climática do CAAD, recebendo um número impressionante de 55 milhões de visualizações. Apesar da violação da política da plataforma, apenas oito vídeos foram desmonetizados, enquanto os demais vídeos monetizados acumularam pelo menos 71 milhões de visualizações contendo informações enganosas sobre as mudanças climáticas.

O relatório se soma a outras pesquisas que trazem evidências de que o Google tem repetidamente quebrado sua promessa de não lucrar com o negacionismo climático. Um estudo recente do CCDH constatou que 63% dos artigos populares sobre negacionismo climático ainda exibem anúncios do Google, e o site Daily Wire teve permissão para exibir anúncios em pesquisas para o termo “a mudança climática é uma farsa”. 

A análise surge em meio à intensificação de debates sobre a regulamentação das plataformas digitais no Brasil e em nível global. Na Europa, a Lei de Serviços Digitais alcança agora 19 plataformas on-line e impõe novas obrigações ao Google, que tem um prazo de quatro meses para cumpri-las. 

O relatório do CAAD e do CCDH insta o Google a cumprir sua promessa de não lucrar com o negacionismo climático em todas as suas plataformas, incluindo o YouTube, e a ampliar sua política para abordar outras formas generalizadas de desinformação climática.

Google prometeu combater desinformação climática – e mentiu 

Relatório mostra que YouTube semeia divisão e viola a política de anúncios de desinformação climática do Google

Um relatório divulgado hoje (2) pela coalizão Climate Action Against Disinformation (Ação Climática contra a Desinformação, CAAD) revelou que o Google não conseguiu aplicar sistematicamente sua própria política de desmonetização de vídeos do YouTube que contenham desinformação climática. Além disso, a política do Google isenta o conteúdo enganoso popular e predominante que obteve milhões de visualizações. 

As principais descoberta incluem:

  • Os 200 vídeos coletados pelos pesquisadores totalizam mais de 73 milhões de visualizações – e continuam aumentando.
  • Foram coletados 100 vídeos que violam as regras de desinformação climática do Google, totalizando pelo menos 18 milhões de visualizações.
  • Foram coletados 100 vídeos que atendem à definição do CAAD de desinformação climática, mas que estão isentos da definição restrita do Google, recebendo 55 milhões de visualizações.
  • 8 vídeos do conjunto de dados foram desmonetizados até o final do processo de pesquisa. Os vídeos que permaneceram monetizados obtiveram pelo menos 71 milhões de visualizações.

Uma planilha com os 200 vídeos está disponível mediante solicitação, assim como as capturas de tela que documentam os anúncios em cada vídeo, embora o CAAD incentive os jornalistas a pesquisarem termos como “fraude climática” para reproduzir as descobertas do relatório.

“Apesar da arrogância ecológica do Google, seus anúncios continuam a alimentar o setor de negação do clima”, disse Callum Hood, chefe de pesquisa do Center for Countering Digital Hate. 

“Seja aceitando dinheiro para atingir os usuários com desinformação sobre o clima ou veiculando anúncios que tornam lucrativo o conteúdo de negação do clima, a empresa está se vendendo. As empresas de tecnologia fazem grandes promessas em relação ao ódio e à desinformação porque sabem que é difícil verificar se as cumpriram. Precisamos forçar o Google a abrir a caixa preta de seu negócio de publicidade.”, afirma Hood

O CAAD pede que o Google aplique sua definição contra a desinformação climática monetizada, bem como considere a adoção da definição mais abrangente de desinformação climática da coalizão para abordar o conteúdo que se envolve em lavagem verde, falsificação e ataques a soluções climáticas. 

“O Google está apoiando a desinformação sobre o clima que eles dizem querer acabar”, disse Erika Seiber, porta-voz de desinformação sobre o clima da Friends of the Earth. 

“A desinformação persiste porque é lucrativa, e a Big Tech precisa remover esse incentivo. Seu modelo de negócios se baseia no envolvimento do usuário às custas da verdade. Já que a Big Tech não pode atender ao chamado de pesquisadores e defensores da transparência e da responsabilidade totais, os legisladores precisam exigir isso”, diz Seiber.

O lançamento do relatório segue a recente implementação da Lei de Serviços Digitais, na qual a Comissão Europeia designou o Google como uma plataforma obrigada a avaliar e relatar os riscos algorítmicos, além de 18 outras empresas, incluindo Meta e TikTok. Elas têm quatro meses para cumprir os requisitos críticos de responsabilidade e transparência estabelecidos pelo projeto de lei, o que aumenta a urgência para que as empresas tomem medidas contra a desinformação.

Os seguintes especialistas acadêmicos não participaram da pesquisa, mas receberam o resumo com antecedência e estão disponíveis para comentar: 

Sobre CAAD

A coalizão Climate Action Against Disinformation (CAAD) é um esforço crescente e sem precedentes de mais de 50 organizações comprometidas em lidar com a disseminação da desinformação sobre o clima por meio da defesa de políticas, pesquisas e campanhas de pressão pública.

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ClimaInfo, 2 de maio de 2023.

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