ClimaInfo Finanças, 10/11/2023.

financiamento energia suja
William Potter / shutterstock.com

ClimaInfo Finanças é um boletim especial sobre financiamento climático para a COP28. 
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Subsídio à energia suja supera em 5 vezes financiamento climático 
Há consenso entre governos, empresas, acadêmicos e ambientalistas de que o mundo precisa fazer muito mais do que tem feito para frear as mudanças climáticas. Outro fato que ninguém nega é que o avanço necessário depende de financiamento compatível com as metas climáticas.

Um relatório do Climate Policy Initiative (CPI) dá um panorama: globalmente, nos anos de 2021 e 2022, o financiamento climático anual foi de USS 1,27 trilhão, o que equivale a menos de 20% dos subsídios anuais aos combustíveis fósseis (> US$ 7 trilhões em 2022), os maiores causadores isolados da mudança climática.

O Norte Global é capaz de canalizar volumes expressivos de dinheiro em um contexto de crise. No ano de 2020, a resposta à COVID-19 mobilizou US$ 11,7 trilhões, o relatório destaca. E o gasto militar global de 2022, quando começou a guerra russa, foi de US$ 2,2 trilhões, quase o dobro do investimento em clima, e deve subir ainda mais em 2023, com a guerra israelese. A mão aberta nesses casos depõe contra a avareza climática das grandes economias, e essa contradição tem sido o principal obstáculo para o avanço das negociações na Conferência do Clima.

O relatório, que é anual, destaca que adiar o investimento climático o tornará mais caro, principalmente a adaptação e as perdas e danos decorrentes do clima extremo. O texto diz que o  financiamento climático anual já deveria ser de pelo menos US$ 8,6 trilhões, mas, apesar da lacuna, o volume tem crescido. O financiamento climático nos anos de 2019 e 2020 era de apenas UR$ 653 bilhões/ano, e o patamar atual de quase 1,3 bilhões foi alcançado principalmente pelo crescimento nos setores de renováveis e transporte.

Outro avanço destacado pela CPI é o maior conhecimento sobre os dados de financiamento climático, que ainda são pouco transparentes. Aproximadamente 28% (US$ 173 bilhões) do aumento observado em 2021/2022 neste relatório é atribuível à melhoria dos dados, segundo os autores. A organização afirma que isso resultou também em um maior entendimento do investimento climático em setores como agricultura, silvicultura, outros usos da terra e pesca; edifícios e infraestrutura; e resíduos.
Materiais: Acesse o relatório completo. O Climate Policy Initiative tem um escritório no Rio de Janeiro, e há porta-vozes brasileiros para comentar a pesquisa – solicite à assessora Camila Calado Lima – [email protected]

De onde o dinheiro vem?
Um outro estudo recente do Climate Policy Initiative, feito em parceria com a PUC-RJ, deu um panorama do financiamento climático especificamente no Brasil, com foco no uso da terra, origem principal das emissões brasileiras. O estudo descobriu que quase todo o financiamento climático brasileiro tem origem nacional (95%), com o crédito rural sendo o principal instrumento. O volume de investimento também cresceu – de R$ 22 bilhões, em 2015, para R$ 35 bilhões, em 2020.

Para onde o dinheiro vai?
O financiamento climático internacional é insuficiente, mas isso não é o pior. Uma pesquisa da University College of London mostra como quase todo o investimento climático está concentrado nos países ricos ou grandes economias emergentes da Europa Ocidental, América do Norte, Ásia Oriental e Pacífico, com apenas 5% chegando às nações africanas. Acesse o estudo aqui. O release em Português para livre divulgação está aqui.  

Para onde o dinheiro deveria ir? 
O encontro preparatório para a COP28 realizado em Abu Dhabi, no começo desta semana, gerou uma recomendação sobre como operacionalizar o Fundo de Perdas e Danos, acordado na COP27, no ano passado. O desenho obtido agora é uma vitória dos países desenvolvidos sobre os países pobres e mais vulneráveis ao clima, que rejeitavam o Banco Mundial como administrador do Fundo. Ninguém parece contente, mas a presidência da COP28 já busca um aporte inicial de U$ 500 milhões.
Materiais: Um resumo em Inglês está aqui, com comentários de Avinash Persaud, enviado especial para o Clima de Barbados; e Harjeet Singh, líder da CAN-International. Me avise se gostaria de entrevistar estes e outros especialistas no tema escrevendo para WhatsApp +55 11 97367-4978. 

Que dinheiro? 
O FMI oficializou o aumento em 50% de sua capacidade de financiamento, com a recomendação do Conselho para que os acionistas (países) aumentem suas cotas neste percentual. A cota é a participação acionária no Fundo, que é o principal capital do FMI para fazer empréstimos. As mudanças são acompanhadas com atenção por ativistas climáticos porque a transição para uma economia de baixo carbono depende de mais dinheiro disponível no sistema financeiro internacional. Essencialmente, a decisão não amplia o poder de voto como queriam grandes economias emergentes, mas significa que o FMI reconhece que a crise da dívida nos países pobres é grave – o último grande aumento de cotas foi para lidar com a crise financeira global de 2008/2009.

Quem sabe
Os assuntos abordados nesta edição da Newsletter ClimaInfo Finanças são o tema de pesquisa da mexicana Sandra Guzmán (disponível em [email protected], fala Inglês ou Espanhol). Ela é fundadora do Grupo de Financiamento Climático para América Latina e Caribe (GFLAC), que trabalha para dar transparência ao que o mundo está chamando de financiamento climático e quanto custará a cada país o combate à mudança do clima.

 

ClimaInfo, 14 de novembro de 2023.

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