Cúpula financeira quer reformar Banco Mundial e FMI para combater mudança climática e pobreza

AgnosticPreachersKid, CC BY-SA 3.0 , via Wikimedia Commons

Cúpula financeira quer reformar Banco Mundial e FMI para combater mudança climática e pobreza

O presidente francês Emmanuel Macron é o anfitrião de uma cúpula, na quinta e sexta-feira (22 e 23), que pode definir um roteiro para aliviar os encargos da dívida dos países pobres e, ao mesmo tempo, liberar mais recursos para o financiamento climático. 

O objetivo do encontro é “construir um novo contrato entre o Norte e o Sul”, em um diálogo sobre algumas das questões globais mais urgentes, como mudanças climáticas, perda de biodiversidade e desafios relacionados ao desenvolvimento. Por isso, os líderes do Sul global, inclusive o presidente Lula, são esperados como interlocutores fundamentais para essas negociações. 

“Daremos um passo importante, pois começaremos estabelecendo um novo consenso. A luta contra a pobreza, a descarbonização de nossa economia para alcançar a neutralidade de carbono até 2050 e a proteção da biodiversidade estão intimamente interligadas”, disse Macron. 

A lacuna de financiamento climático continua a crescer. Uma análise do Independent High-Level Expert Group on Climate Finance estima que os países em desenvolvimento, com exceção da China, precisarão gastar cerca de US$ 1 trilhão por ano até 2025 para enfrentar as mudanças climáticas. Até 2030, seriam cerca de US$ 2,4 trilhões por ano (6,5% do PIB global).

Nesses gastos estão contabilizados os investimentos necessários para a transição energética, adaptação e resiliência à mudança do clima, além da proteção e restauração da natureza e da biodiversidade. Os especialistas dizem que a meta de financiamento está ao alcance, mas é necessária uma redefinição fundamental na arquitetura financeira global.

Esta é a principal ambição da cúpula desta semana na França. E vários líderes mundiais, inclusive de pequenas nações insulares e de países em desenvolvimento, têm pedido uma revisão completa do sistema financeiro internacional. Esses apelos também foram apoiados por António Guterres, Secretário Geral da ONU, que declarou que “a arquitetura financeira internacional é míope, propensa a crises e não tem relação com a realidade econômica atual”. 

As duas principais instituições multilaterais, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, que foram criadas pelo sistema de Bretton Woods há 80 anos, estão sendo pressionadas a reformar suas políticas e estruturas para torná-las adequadas aos atuais desafios globais, principalmente a crise climática.

O Grupo dos Vinte Vulneráveis (V20) de Ministros de Finanças do Fórum de Vulneráveis ao Clima, sob a presidência de Gana, fez um forte apelo para reformar a arquitetura financeira e da dívida e tornar a economia mundial adequada ao clima. Além disso, o grupo africano de ministros das finanças e parceiros também definiu pedidos específicos e realizáveis nos próximos oito meses que ajudarão a transformar o sistema para fazer mais pelos países africanos. 

O chamado para reformar o sistema financeiro global é generalizado entre os países de renda média e baixa, mas também tem o apoio de vários países de alta renda. A proposta mais significativa para reformar o sistema financeiro global, a iniciativa de Bridgetown, está sendo liderada por Mia Mottley, a primeira-ministra de Barbados, no Caribe. O plano estabelece um caminho por meio do qual o financiamento pode ser redirecionado para os países pobres que estão pagando o preço mais alto pelos impactos climáticos e pela perda de biodiversidade. 

“As respostas da comunidade internacional são atualmente fragmentadas, parciais e insuficientes. Pedimos uma revisão fundamental de nossa abordagem. Juntos, precisamos construir um sistema financeiro internacional mais responsivo, mais justo e mais inclusivo para combater as desigualdades, financiar a transição climática e nos aproximar da realização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, afirma Mottley. 

A cúpula terá por base as propostas apresentadas por Barbados e outros países em desenvolvimento e está sendo co-organizada pela presidência indiana do G20. Espera-se que as negociações desta semana possam influenciar as reuniões do G20 em setembro, as reuniões do FMI e do Banco Mundial em outubro e da COP28 em dezembro.

“Precisamos chegar a um acordo sobre os melhores meios para enfrentar esses desafios nos países pobres e em desenvolvimento, no que diz respeito ao montante de investimentos, à reforma abrangente da infraestrutura, como o Banco Mundial, o FMI e os fundos públicos e privados, e como colocar este novo processo em andamento”, disse Macron sobre os resultados esperados da Cúpula. 

“Para ser considerado um sucesso e restaurar a confiança desgastada, o Novo Pacto Financeiro deve permitir uma redução da enorme lacuna de investimento em desenvolvimento sustentável. O financiamento deve oferecer políticas eficientes e propostas técnicas concretas para começar a construir um histórico de implementação nos países”, afirma Sébastien Treyer, diretor executivo do think tank IDDRI, para quem o desafio continua sendo traduzir essas propostas em ações concretas. “O sistema existente precisa demonstrar que ainda é adequado ao seu propósito, caso contrário, há o risco de atrasar a implementação e alimentar ainda mais a fragmentação.”

“O Novo Pacto Financeiro deve proporcionar uma sequência única para realmente moldar a agenda do Sul Global, o que significa resultados claros a serem implementados e retomados pelas presidências indiana, brasileira e sul-africana do G20″, completa Treyer. 

Friederike Roder, vice-presidente de Financiamento do Desenvolvimento e Clima da Global Citizen, ressalta a oportunidade histórica da cúpula. “É raro que uma cúpula de líderes globais se concentre exclusivamente em como financiar as necessidades dos países pobres e vulneráveis. E já deveria ter acontecido há muito tempo”, diz a ambientalista. 

“Desde a Covid e com a emergência climática, a reforma financeira global é urgentemente necessária, alavancando recursos adicionais e garantindo maior justiça. O que o mundo não precisa é de mais um talk show, sem ações concretas. As propostas estão sobre a mesa, agora cabe aos líderes agir”, finaliza Roder.

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ClimaInfo, 20 de junho de 2023.

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