Transição energética europeia é irreversível e moldará parcerias internacionais, diz nova análise

Freepik

A adoção do Acordo Verde Europeu desencadeará o declínio da demanda por carvão, petróleo e gás e confirmará solar e eólica como principais fontes de eletricidade na Europa até 2030, diz um novo relatório do think tank Strategic Perspectives, com sede em Bruxelas.

Principais números da análise:

  • 55% da eletricidade da UE proveniente de energia eólica e solar em 2030 
  • 29 milhões de carros elétricos particulares nas estradas europeias
  • 58 milhões de bombas de calor instaladas (aquecimento predial)
  • Eliminação gradual do carvão
  • Consumo de gás e petróleo reduzido em pelo menos 31% e 34%, respectivamente, em comparação com 2019

O relatório chega a esses números ao examinar a implementação dos principais componentes do Acordo Verde Europeu: o pacote Fit for 55 (destinado a atingir a meta da UE de -55% de GEE até 2030); e o RePowerEU (criado após a guerra como uma medida para cortar a dependência do gás russo para bem antes de 2030). 

“Os tomadores de decisão da UE colocaram a Europa em uma trajetória irreversível de descarbonização”, diz o relatório, que indica que a transição líquida zero também se tornará uma vantagem competitiva para as empresas europeias e contribuirá para proteger as famílias de crises inflacionárias, como a atual, inclusive reduzindo os preços da energia e criando empregos.

“Os países que buscam exportar gás, carvão e petróleo para a UE não devem se iludir: o consumo está diminuindo, de forma irreversível. Novas parcerias econômicas em tecnologias verdes são a melhor opção para ambos os lados. A Europa não está voltando atrás em suas promessas e muitas empresas já estão se beneficiando”, disse Linda Kalcher, Diretora Executiva da Strategic Perspectives. 

“A UE sabe da necessidade de se afastar de uma dependência tóxica de combustíveis fósseis e tem a estrutura para fazer isso acontecer. É necessário, está acontecendo e é inevitável. Nem sempre foi uma linha reta, mas a mensagem é clara: o futuro está longe do gás, do carvão e do petróleo. Para serem bem-sucedidos, os Estados-Membros da UE têm a responsabilidade de implementar esse projeto de forma justa para as famílias e empresas europeias. Em nome da segurança e da solidariedade, eles devem essa visão aos cidadãos europeus e ao mundo”, comentou Laurence Tubiana, CEO da European Climate Foundation.

Abaixo da minha assinatura, você encontra um release com as principais conclusões do relatório e comentários adicionais de porta-vozes de alto nível. Você pode acessar uma cópia desse relatório neste link (Sumário Executivo aqui). 

As energias renováveis serão a principal fonte de eletricidade da União Europeia até 2030, prevê o think tank pan-europeu Strategic Perspectives. Um novo relatório da organização divulgado nesta terça (16) na Europa diz que a implementação do Acordo Verde Europeu levará a um declínio de 31% e 34% para gás e petróleo, respectivamente, até o fim desta década na comparação com os níveis de 2019. 

O documento enfatiza que parcerias com países externos ao bloco estão se tornando um pilar fundamental da implementação do Acordo Verde para governos nacionais e empresas. Com a queda da demanda, os combustíveis fósseis deixam de ser um investimento compensador neste sentido, mas novas cooperações internacionais em tecnologias e matérias-primas para a transição energética ganham ainda mais relevância na UE.

A análise se debruçou sobre dois elementos centrais do Acordo Verde Europeu: o pacote Fit to 55, que estabelece metas para que a União Europeia corte 55% de suas emissões anuais de gases de efeito estufa até 2030; e o esforço emergencial de guerra RePowerEU, que cria um roteiro para redução da dependência do gás russo para bem antes do fim da década.

Segundo o relatório, o carvão não será mais competitivo em termos de custo e será eliminado gradualmente. Por outro lado, se todas as leis forem implementadas corretamente e dentro do prazo, elas levarão a uma duplicação da capacidade de energia renovável em comparação com 2021.

Os dados da pesquisa acompanham as tendências atuais. Já neste ano, a redução da demanda de gás e a geração renovável recorde ajudaram a UE a enfrentar um inverno turbulento, afastando os temores de um retorno do carvão como consequência da guerra. Em 2022, as energias eólica e solar geraram um recorde de eletricidade da UE (22%), ultrapassando pela primeira vez o gás fóssil (20%) e permanecendo acima da energia do carvão (16%).

“Os países que buscam exportar gás, carvão e petróleo para a UE não devem se iludir: o consumo está diminuindo, de forma irreversível”, crava Linda Kalcher, Diretora Executiva da Strategic Perspectives. “Novas parcerias econômicas em tecnologias verdes são a melhor opção para ambos os lados. A Europa não está voltando atrás em suas promessas e muitas empresas já estão se beneficiando.”

“Como um continente com recursos limitados de gás e petróleo, a União Europeia está tomando a opção estratégica correta: usar a transição líquida zero como um instrumento de segurança energética contra ameaças geopolíticas. O Acordo Verde Europeu reduzirá o equivalente ao consumo anual de gás da Alemanha em apenas sete anos. O novo mundo é alimentado por tecnologias limpas”, disse Neil Makaroff, diretor da Strategic Perspectives.

Os números deste relatório tiveram grande repercussão no mundo político e na sociedade civil europeia. Uma das diplomatas mais importantes para a criação do Acordo de Paris, Laurence Tubiana, CEO da European Climate Foundation, comemorou o prognóstico. 

“A UE sabe da necessidade de se afastar de uma dependência tóxica de combustíveis fósseis e tem a estrutura para fazer isso acontecer”, disse Tubiana. “É necessário, está acontecendo e é inevitável. Nem sempre foi uma linha reta, mas a mensagem é clara: o futuro está longe do gás, do carvão e do petróleo.”

“A transição verde da Europa finalmente acabará com nossa dependência do petróleo, gás e carvão russos e garantirá nosso acesso a energia confiável e barata”, comemora Marcin Korolec, ex-ministro do Meio Ambiente da Polônia e presidente da Fundação de Promoção de Veículos Elétricos (FPPE). 

“As principais empresas têm sido defensoras de longa data da capacidade do Acordo Verde de definir o caminho para a neutralidade climática, reduzir a dependência da UE em relação aos combustíveis fósseis e garantir a competitividade da indústria no futuro. As conclusões deste relatório reforçam essa confiança”, avalia Ursula Woodburn, Diretora do Corporate Leaders Group Europe (CLG Europe). 

“Elas mostram o poder crescente do setor de energias renováveis e que as bombas de calor e os carros elétricos estão a caminho de substituir os aparelhos e veículos de origem fóssil em apenas alguns anos”, completa Woodburn. 

Apoio a empresas e famílias 

O fim da forte dependência de combustíveis fósseis importados resultará em economias significativas para as empresas e as famílias europeias, de acordo com o relatório. 

O custo da geração de eletricidade a partir de fontes renováveis diminuirá com o tempo, ao contrário do custo da geração de eletricidade a partir de combustíveis fósseis, que continuará aumentando. A transição energética pode reduzir os preços médios da eletricidade para empresas e residências em mais de 7% até 2030. 

Além disso, segundo a Strategic Perspectives, a aceleração da descarbonização da economia europeia por meio do Acordo Verde contribuirá para a criação de 475.000 empregos líquidos até 2030.

“Agora é hora de os agentes públicos e privados arregaçarem as mangas para implementar políticas no local. Eles devem trabalhar juntos para desbloquear o financiamento e acelerar o desenvolvimento de uma base industrial líquida zero e do setor de energia limpa para o benefício do clima, da economia e dos cidadãos”, afirma Woodburn. 

Na mesma linha, Tubiana disse que os Estados-Membros da UE têm a responsabilidade de implementar esse projeto de forma justa. “Em nome da segurança e da solidariedade, eles devem essa visão aos cidadãos europeus e ao mundo”, disse a diplomata francesa.

“Com mais da metade da nossa eletricidade proveniente de energia solar e eólica até 2030, e a rápida implantação de bombas de calor e veículos elétricos, a UE nos oferece todas as soluções de que precisamos para construir nossas economias, garantir empregos e reduzir nossas contas de energia”, finaliza Korolec. 

Reações ao relatório

Mohamed Adow, Diretor da Power Shift Africa, disse:

“Apesar dos últimos suspiros do setor de combustíveis fósseis, a era da energia suja está chegando ao fim. Esse legado destruiu o clima e causou um sofrimento incalculável por meio de eventos climáticos extremos e temperaturas altíssimas. Felizmente, a era das energias limpas, baratas e renováveis é inevitável. Mas a questão é se os líderes europeus agirão com rapidez suficiente para impedir os danos devastadores que estão sendo causados na África e em outros lugares. O Acordo Verde é um passo importante na direção certa, mas precisamos vê-lo promulgado rapidamente se quisermos que a Europa seja vista como uma aliada dos países vulneráveis ao clima, como o meu, ou apenas mais um lugar para falar.”

Kimiko Hirata, Diretora Executiva do Climate Integrate, disse:

“A Europa vem nos enviando sinais há anos – os dados são claros: a transição líquida zero é real, está acontecendo e está funcionando. Ela beneficia as famílias, os empregos e as empresas. Não podemos ser deixados para trás e perder não apenas a competitividade, mas também o acesso ao maior mercado único do mundo. Chegou a hora de a Europa, a Ásia e o mundo investirem na ampla gama de opções limpas comprovadas e escalonáveis e pararem de adiar a eliminação gradual dos combustíveis fósseis e a eletrificação de diversos setores.”

Frances Colón, Diretora Sênior de Política Climática Internacional, Center for American Progress, disse:

Queda da demanda de gás, carvão e petróleo e aumento da produção e eletrificação de renováveis – a Europa está inequivocamente em um caminho de afastamento dos combustíveis fósseis, e isso está valendo a pena. A implementação de seu Acordo Verde protegeu a UE durante os últimos anos difíceis. Além disso, eles estão ampliando e tornando mais verdes seus planos econômicos e industriais. Os números comprovam que o compromisso de nossos parceiros europeus com a transição para o zero líquido reduzirá constantemente os preços da energia para empresas cada vez mais competitivas e consumidores mais capacitados. Podemos esquecer a intensificação das vendas de petróleo, gás e carvão para a UE. O futuro está nas tecnologias de energia limpa, e é nisso que nossas parcerias devem se concentrar.”

Julian Popov, ex-ministro do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos da Bulgária, disse: 

“A UE deu início a uma transição que já está claramente em andamento – e é imparável. Até 2030, um grande número de europeus aquecerá suas casas com bombas de calor e usará carros elétricos. Mais da metade dessa energia virá da energia solar e eólica. Isso tornará milhões de europeus imunes à extorsão de energia fóssil da Rússia. 

A transição energética criará milhares de empregos nos países da Europa Central e Oriental. Precisaremos de milhões de instaladores de painéis solares, técnicos de bombas de calor e especialistas em veículos elétricos. A eletricidade barata tornará nossos setores mais competitivos. O Acordo Verde Europeu trará prosperidade para todos e é a melhor estratégia econômica para o século XXI.”

Brick Medak, diretor de políticas europeias e internacionais da Stiftung KlimaWirtschaft (Aliança de CEOs alemães para clima e economia), disse:

“A transição energética e o Acordo Verde Europeu podem e serão benéficos para todos na Europa. Teremos melhores condições. Isso criará muitos empregos, fornecerá eletricidade mais barata, protegerá contra a inflação e tornará a indústria da UE e outras empresas mais competitivas em seu caminho para a neutralidade climática.”

Notas para o Editor

Quase todas as leis incluídas na modelagem já foram adotadas pela UE. Apenas a Diretiva de Desempenho Energético ainda está sendo negociada e, portanto, uma estimativa baseada nas posições das instituições da UE está incluída no modelo. Os efeitos descritos no relatório só poderão ser alcançados se os governos nacionais implementarem as leis de forma completa.

Contatos para entrevistas: 

  • Linda Kalcher, Executive Director, Strategic Perspectives
  • Neil Makaroff, Director, Strategic Perspectives
Sobre Strategic Perspectives

O Strategic Perspectives é um novo think tank pan-europeu que trabalha de forma colaborativa com para garantir que uma ação climática eficaz seja a solução para uma série de crises que a UE está enfrentando. Com base nas perspectivas nacionais, o Strategic Perspectives tem como objetivo elaborar propostas ousadas que devem resultar em uma transição bem gerenciada para emissões líquidas zero, uma sociedade mais equitativa, um posicionamento geopolítico mais claro da UE e um setor pronto para o futuro em toda a Europa.

__________

ClimaInfo, 12 de maio de 2023.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.