Explorar petróleo na foz do Amazonas ainda é prioridade da Petrobras, diz Prates

Petrobras foz do Amazonas estudos
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Jean Paul Prates diz “ter certeza” de que petroleira vai conseguir licença do IBAMA para poço na foz porque área “foi licitada em leilão federal”.

No mesmo dia em que a Petrobras conseguiu do IBAMA licença para perfurar dois poços de exploração de petróleo na Bacia Potiguar, no leste da Margem Equatorial, o presidente da empresa, Jean Paul Prates, disse que a foz do Amazonas, no oeste da região, é “prioridade” para a estatal. A petroleira insiste em perfurar um poço para buscar combustíveis fósseis no bloco FZA-M-59, no litoral do Amapá – embora o presidente do órgão, Rodrigo Agostinho, tenha ressaltado que não há segurança para licenciar a atividade na região.

Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na 2ª feira (2/10), Prates disse ter certeza de que a Petrobras vai conseguir a licença do IBAMA para a foz. O argumento é que o FZA-M-59 foi leiloado pela ANP. Entretanto, arrematar áreas nessas licitações nunca foi garantia ou obrigatoriedade de que o órgão ambiental autorize a operação. Afinal, o IBAMA precisa seguir a legislação ambiental, e não a vontade da área energética do governo.

Já no domingo (1/10), no antigo Twitter, Prates escreveu que a Petrobras tinha reiterado a prioridade da foz do Amazonas ao IBAMA em 6 ofícios, desde que teve a licença para exploração negada em 17 de maio, informa o Poder 360.

Embora o IBAMA já tenha esclarecido que as bacias Potiguar e da foz do Amazonas são completamente diferentes ambientalmente, a esperança de Prates de ter a licença para o poço no litoral do Amapá é compartilhada por outros executivos da Petrobras. Caso do diretor-executivo de Exploração e Produção da petroleira, Joelson Falcão, relata a CNN.

“O melhor dos mundos seria, antes de terminar o poço [na Bacia Potiguar], o IBAMA nos autorizar no Amapá. A gente se prepara lá para fazer o mesmo: uma avaliação pré-operacional. Só que lá vai ser preciso que a sonda faça um simulado com um vazamento de gás. Se isso acontecer em dois, três meses, seria o ideal. A gente mobilizaria após o Rio Grande do Norte para lá”, afirmou.

Em entrevistas, matérias e artigo n’O Globo sobre os 70 anos da Petrobras, completados na 3ª feira (3/10), Prates repetiu que a empresa vive o desafio de passar por uma “transformação energética”, que seria maior que uma transição. E apesar do vácuo nos investimentos em fontes renováveis, insiste na narrativa de que quer liderar a transição energética brasileira.

Em entrevista ao Capital Reset, o diretor de Transição Energética da petroleira, Maurício Tolmasquim, disse que a companhia quer recuperar o “tempo perdido” em renováveis. E n’O Globo, Jean Paul Prates, contou que os investimentos em renováveis vão constar do próximo plano de negócios da empresa, a ser divulgado provavelmente em novembro.

Contudo, Prates destaca os projetos de energia eólica offshore – que ainda não têm regulação –, antecipa a ideia de investir em fábricas de hidrogênio – idem – e cita estudos para entrar no segmento de baterias para veículos elétricos – um setor ainda incipiente e cercado de incertezas. Ou seja: noves fora, nada.

Investing.com, Poder 360, Estadão e Brasil 247 repercutiram a fala de Prates sobre a foz do Amazonas.

Em tempo: Em excelente artigo na Sumaúma, Sidarta Ribeiro, pesquisador do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz, questiona quem se autoproclama progressista e defende a exploração de petróleo na foz do Amazonas. “Agarrados a argumentos técnicos que negligenciam riscos e inflam a imaginação dos lucros futuros, meus amigos se esquecem de muitas coisas”, diz, reforçando que o tempo do petróleo já passou. “Como convencer que o planeta não aguenta mais tanta desdita extrativista? Como explicar que por dinheiro algum vale a pena acelerar o desequilíbrio ambiental em curso, através da degradação ou destruição de matéria orgânica viva – as florestas, corais e manguezais –, para extrair matéria orgânica morta e pegajosa, com a única serventia de produzir combustíveis, plásticos e tantas outras coisas que compulsivamente descartamos, incineramos e espalhamos por toda parte?”.

 

ClimaInfo, 4 de outubro de 2023.

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