Presidente da COP28 defende participação da indústria fóssil em negociações climáticas

COP28 presidência petroleira
©RyanLIM/AFP

Sultan al-Jaber volta a defender participação da indústria dos combustíveis fósseis na COP28, enquanto o setor se “finge de morto” com relação a metas climáticas.

Anfitriões da próxima Conferência da ONU sobre o Clima (COP28), os Emirados Árabes Unidos receberam nesta semana um evento internacional da indústria de petróleo e gás, setor que o país pretende colocar na mesa de negociação junto com os governos. A ocasião serviu como mais uma oportunidade para o presidente-designado da COP28, Sultan al-Jaber, defender a proposta de inclusão das empresas petroleiras nas conversas de dezembro em Dubai.

“Durante demasiado tempo, esta indústria foi vista como parte do problema, que não está fazendo o suficiente e, em alguns casos, está até bloqueando o progresso. Esta é a sua oportunidade de mostrar ao mundo que, de fato, vocês são fundamentais para a solução”, disse al-Jaber, ele próprio um executivo da indústria petroleira, a colegas do setor. 

O futuro presidente da COP28 também defendeu que a indústria apresente novos compromissos e propostas de ação climática, como a expansão da geração de energia por fontes renováveis e a redução das emissões associadas à produção de combustíveis fósseis, como sinal de que “esta indústria pode mudar o debate global [sobre clima]”.

O discurso foi bem recebido pelos representantes do setor, ainda que o entendimento tenha sido tão raso quanto o do próprio al-Jaber. À Bloomberg, os CEOs de petroleiras como ExxonMobil e BP repetiram o mantra do presidente da COP28 de que a indústria fóssil deve fazer parte das negociações climáticas, mas sem apontar qualquer contribuição substancial dessa indústria para enfrentar a crise climática.

“Vemos apelos para parar de investir no petróleo. Acreditamos que isto é contraproducente”, disse o secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), Haitham al-Ghais, citado pela AFP. Na contramão do que a ciência coloca como crucial para evitar mudanças climáticas ainda mais catastróficas, o líder do cartel petrolífero defendeu que os investimentos na exploração de petróleo aumentem para US$ 600 bilhões anuais até 2045 para “alcançar a segurança energética”.

Associated Press e Reuters também repercutiram a fala de al-Jaber e os ouvidos moucos da indústria fóssil à crise climática. 

Em tempo: Parece provocação (ou será ameaça?). De toda forma, o Financial Times informou que o governo dos Emirados Árabes sinalizou ao secretariado da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC) sua disposição em sediar a COP29 no final de 2024 caso os países do Leste Europeu não cheguem a um acordo sobre o destino da Conferência no ano que vem. Uma eventual repetição da sede na próxima COP deixaria a agenda climática internacional nas mãos de um dos maiores produtores de petróleo do planeta por dois anos seguidos.

 

ClimaInfo, 4 de outubro de 2023.

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