Uma das marcas do Brasil, café está ameaçado pelas mudanças climáticas

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Eduardo Gorghetto

Climas mais secos e quentes provocados pelas mudanças climáticas estão causando estragos na produção de café arábica em lavouras de São Paulo e Minas Gerais.

À medida que a temporada de incêndios atinge seu pico na Amazônia – agravada pela seca extrema que atinge a região –, produtores de café a milhares de quilômetros de distância também vivem seu inferno particular. Fazendas como a de Felipe Barretto Croce, em Mococa (SP), têm visto as queimadas aumentarem nos últimos anos, pondo em risco a produção.

A Fazenda Ambiental Fortaleza (FAF), propriedade da família de Croce, no interior paulista, está entre dois biomas – o Cerrado e a Mata Atlântica. Nela, 10 hectares de café arábica orgânico estão se tornando cada vez mais vulneráveis às mudanças do ambiente, em grande parte acentuadas pelo desmatamento na Amazônia, destaca o Mongabay em matéria reproduzida por UOL e Diálogo Chino.

A previsão é de que essas estações secas e quentes se tornem piores e mais frequentes. A modelagem climática da plataforma Gro Intelligence estima que o número de dias com temperaturas extremas acima de 34°C no período crítico de floração do cafeeiro, entre setembro e outubro, aumentará em até 10 dias por mês até 2050. Os dados sugerem que a produção de café do Brasil provavelmente será a mais severamente afetada de todos os países produtores do grão estudados (Colômbia, Peru, Quênia e Etiópia), com a previsão de que as chuvas também diminuam em 10% até meados do século.

Com o clima extremo cada vez mais frequente, o tempo entre os estresses climáticos nos cafezais brasileiros está mais curto, o que significa que as plantas não têm a chance de se recuperar totalmente. Os efeitos de uma seca severa em 2020 e da pior geada em 27 anos em 2021 ainda estão sendo sentidos pela espécie arábica, altamente sensível.

Desde as montanhas escarpadas das Matas de Minas, na divisa entre Minas Gerais e Espírito Santo, até as colinas onduladas da Mogiana, em São Paulo, não há duas regiões produtoras de café iguais. Isso também significa que as experiências dos agricultores e os impactos climáticos são variados.

Com a projeção da Universidade de Zurique de que mais de 50% das terras do planeta se tornarão inóspitas para o café devido às mudanças climáticas até a virada do século, pode parecer tentador migrar a produção de café do Brasil para regiões de altitude elevada ou mais frias. Mas o especialista em agrometeorologia Jurandir Zullo Junior, da UNICAMP, alerta para os riscos da migração para áreas produtoras menos tradicionais.

“A produção do café necessita de uma estrutura. Não é uma planta que você vai deslocando facilmente como uma cultura de grãos, que em 120 dias ou 90 dias você produz, como o feijão. O agricultor normalmente é especializado, já tem uma tradição, já tem uma experiência. Por isso a adaptação de uma cultura perene é muito difícil”, explica.

Em tempo: A Starbucks anunciou que desenvolveu seis novas variedades de sementes de café arábica que podem resistir aos efeitos das mudanças climáticas, que alguns especialistas consideram “críticas” para o futuro do grão. As sementes de arábica desenvolvidas pela rede de cafés são cultivadas para resistir à ferrugem das folhas, e os testes demonstraram gerar um rendimento maior em um período mais curto de tempo, informa o Guardian. A equipe de agronomia da Starbucks planta diversas variedades e híbridos de sementes, monitorando a resistência das árvores a doenças e a absorção de nutrientes ao longo de pelo menos seis gerações, ou cerca de 12 anos.

 

ClimaInfo, 6 de outubro de 2023.

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