Negociações de Bonn: duas semanas para salvar a COP28

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Cerca de 200 países negociam em Bonn, na Alemanha, um plano para a realização de um ambicioso pacto global em Dubai no final deste ano. As negociações Climáticas da ONU ocorrem sob o temor crescente – inclusive na avaliação de atores políticos – de que os anfitriões da COP28, os Emirados Árabes Unidos, estão atuando para proteger os produtores de combustíveis fósseis, maiores causadores da mudança climática. 

A conferência, de 5 a 15 de junho, acontece meses depois que os principais cientistas climáticos do mundo alertaram os governos que eles precisam acelerar radicalmente os cortes no uso de petróleo, gás e carvão até 2030 e aumentar os investimentos em energia renovável..

O Global Stocktake bienal da ONU – uma análise dos esforços atuais para manter as temperaturas globais abaixo de 1,5C acima dos níveis pré-industriais – será apresentado em setembro. Isso faz da conferência de Bonn um momento crítico para o chefe da COP28, Sultan Al Jaber, delinear seus planos para o restante de 2023.

Se você está cobrindo ou acompanhando os desdobramentos de Bonn com vistas à COP28, por favor, escreva para minha colega Ruchi Patel e ela terá prazer em incluir seu email em um briefing diário direto da conferência. 

Uma delegação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) está participando da conferência. Escreva para Karina Melo para pedidos de entrevistas/comentários. 

Reações coletadas em 5/6/2023

Alex Scott, Climate Policy Lead, E3G:

“Al Jaber tem duas semanas para salvar a COP28. Ele precisa chegar a Bonn com um plano de ação que atenda às exigências do relatório de síntese do IPCC. Este é um momento crítico: Bonn representa o momento da conversa de equipe para qualquer presidente de COP. É vital para sua credibilidade que ele enfrente o desafio e garanta que não seja visto simplesmente como um defensor dos interesses do petróleo e do gás.”

Laurence Tubiana, diplomata-líder na construção do Acordo de Paris, CEO da European Climate Foundation:

“É compreensível que haja um exame minucioso e uma pressão extra sobre o Dr. Sultan Al Jaber, devido à sua função na Abu Dhabi National Oil Company. As questões difíceis que estão sendo levantadas são um sinal saudável de que muitos se preocupam com o Acordo de Paris. É por isso que ele e a Presidência têm a oportunidade de garantir que esta COP esteja alinhada com o Acordo de Paris e abordar as preocupações de frente, trazendo o setor de petróleo e gás para uma resposta séria ao desafio climático. Eles podem mostrar como é a liderança pós-fóssil”.

“A Presidência precisa mostrar rapidamente onde está sua ambição: aumentar as energias renováveis é parte disso, mas reconhecer que isso não será suficiente para esta COP.  Agora, mais do que nunca, é fundamental reconhecer simultaneamente que a era dos fósseis está terminando. Eles estão em uma posição privilegiada para fazer isso, mas o mundo precisa entender o plano. O momento para isso é agora”.

Bernice Lee, Director, Futures, Chatham House:

“Os Emirados Árabes Unidos se propuseram a usar a presidência da COP para mostrar sua capacidade de superar as diferenças entre os países para alcançar resultados climáticos. Na metade do ano, ainda não conseguiu fazer isso, prejudicando a confiança no processo da COP28. Bonn é um momento crítico para os anfitriões da COP28: eles precisam chegar com um plano claro que atenda aos desafios estabelecidos pelo Relatório Síntese do IPCC. Isso significa visar a um acordo que reduza radicalmente as emissões de combustíveis fósseis até 2030, impulsione o investimento em energia limpa e ofereça apoio financeiro urgente aos países em desenvolvimento.”

Mohamed Adow, Director, Power Shift Africa:

“Esta reunião em Bonn é mais importante do que a maioria, considerando toda a cobertura negativa de imprensa e as mensagens contraditórias que saíram da presidência da COP28 até agora neste ano. É fundamental que essas conversas na Alemanha nos coloquem de volta nos trilhos. Precisamos ver progresso no aumento do financiamento para ajudar os países a se adaptarem às mudanças climáticas, bem como ver compromissos financeiros com o novo Fundo de Perdas e Danos para compensar os sobreviventes mais vulneráveis da crise climática. E para recuperar a confiança do mundo antes da COP28, que está sendo coordenada por um barão do petróleo, precisamos avançar no acordo para que todos os países eliminem gradualmente os combustíveis fósseis e aumentem as energias renováveis”.

Wangari Muchiri, Africa Director, Global Wind Energy Council:

“Antes da COP28, os governos precisam demonstrar compromisso com a eliminação dos combustíveis fósseis e investir recursos no aumento da energia renovável. A África tem alguns dos melhores recursos solares e eólicos do mundo, minerais que são essenciais para a fabricação de baterias e turbinas eólicas e uma população jovem pronta para novos empregos. As energias renováveis são a solução para isso e, por isso, pedimos aos líderes que participam da conferência sobre mudanças climáticas em Bonn que sejam ousados em sua ambição de eliminar gradualmente TODOS os combustíveis fósseis.”

Frances Colón, Senior Director for International Climate Policy Center for American Progress

“Nos EUA, há uma desconexão entre a política climática nacional e a política climática internacional. Esse é o cerne do que precisa ser resolvido antes da COP28. É preciso haver uma estratégia mais coerente entre as duas. Isso fica evidente nas divisões políticas sobre como o financiamento climático é visto e como conseguimos encontrar financiamento para atender aos nossos compromissos geopolíticos globais, mas quando se trata de fundos climáticos, leva quase dois anos.”

Catherine Abreu, Director Destination Zero:

“As COPs não têm trabalhado para fazer o que deveriam estar fazendo, que é reduzir as emissões globais. Na verdade, as emissões que vimos dos combustíveis fósseis nos últimos 10 anos superaram as emissões que vimos no século anterior e é por isso que precisamos ter uma conversa sobre a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis na COP: porque o fracasso do progresso na transição energética é o principal obstáculo para que os países cumpram seus compromissos no âmbito da UNFCCC.”

Rachel Kyte, dean of The Fletcher School at Tufts University:

“A diplomacia é, muitas vezes, a arte da malandragem. Há tempo para colocar a COP28 no eixo, mas as próximas duas semanas são fundamentais. O Dr. Al Jabeer tem que enfrentar o momento e definir os contornos de um acordo em Dubai. Se não o fizer, não conseguirá desviar a conversa de sua aptidão para o cargo. Se alguma vez precisamos de um salto em Bonn, é agora”.

Karim El Gendy, Associate Fellow, Chatham House:

“O receio é que, se os objetivos nacionais dos Emirados Árabes Unidos forem exportar cada gota de petróleo perpetuamente até que o petróleo acabe, porque o país tem uma das emissões mais baixas e o menor custo por barril, então ele poderá estar inclinado a manter o mercado exigindo petróleo, portanto, estará inclinado a continuar dizendo coisas como que o mundo precisará de petróleo simplesmente porque precisa manter esse cliente. Os Emirados Árabes Unidos, francamente, precisam desse dinheiro porque estão tentando descarbonizar sua economia e diversificá-la para um mundo pós-petróleo”

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ClimaInfo, 6 de maio de 2023.

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