Para explorar petróleo na foz do Amazonas basta mudar o nome da região, sugere senador

Marcelo Castro foz do Amazonas
Divulgação/Agência Senado

Para o senador Marcelo Castro (MDB-PI), o nome, e não os imensos riscos socioambientais da explorar petróleo na região, é que “causa confusão” com ambientalistas.

Não importa se os técnicos do IBAMA mostram que a proposta da Petrobras de perfurar um poço de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas não garante a segurança ambiental da operação. Nem se não há estudos – que não só poderiam como já deveriam ter sido feitos pelo Ministério de Minas e Energia (MME) – sobre os impactos da atividade petrolífera na região. Para o senador Marcelo Castro (MDB-PI), o problema é um só: o nome dado à região. 

Segundo Castro, a decisão de nomear a bacia que se estende do litoral norte do Amapá à costa leste do Pará como “Foz do Amazonas” – que “coincidentemente” é a área onde desemboca o segundo maior rio do planeta e é influenciada pela força de suas águas – foi “um dos maiores crimes já feitos contra o Brasil” e uma grande “falha de comunicação”, informam Poder 360 e A Crítica. Para o senador, o nome passa a ideia de que a Petrobras quer explorar petróleo próximo ao rio Amazonas. De onde ele tirou isso não se sabe. Logo, mude-se o nome para “Bacia do Amapá” e tudo estará bem com o maior manguezal do planeta, que pode ser ameaçado pelo petróleo.

Segundo Castro, a “confusão de nomes” tem desgastado a imagem da estatal com o IBAMA e a população, e atrapalhado o desenvolvimento da região. Entretanto, o Metrópoles conversou com moradores amapaenses e ouviu relatos que vão de uma expectativa de desenvolvimento econômico com os royalties a preocupações sobre o que pode acontecer com a região.

O “frisson” dos desenvolvimentistas do século passado com a perfuração na foz do Amazonas aumentou após o IBAMA ter liberado licença para a Petrobras abrir poços de petróleo na Bacia Potiguar, no litoral do Rio Grande do Norte. Suely Araújo, especialista do Observatório do Clima e ex-presidente do órgão ambiental, disse à CNN que a licença inaugurou uma nova fase da guerra narrativa sobre a exploração da margem.

A especialista reforça o que o próprio IBAMA já disse: a liberação em Potiguar não influencia em nada as perspectivas para a foz. “São características geográficas completamente diferentes. É preciso ter muita cautela, os processos são resolvidos individualmente. O fato de ter liberado uma retificação de licença na Bacia do Potiguar não tem relação nenhuma com o [bloco FZA-M-]59”, explica.

Como parte interessadíssima em explorar energia suja na foz do Amazonas, a Petrobras morde o IBAMA de um lado, assopra de outro e aumenta a lista de promessas. A mais nova do presidente da estatal, Jean Paul Prates, foi dizer que a companhia poderia contribuir mais com o Fundo Amazônia com o petróleo que explorar na região, segundo o Valor. Mas, para isso, Prates ressalva que precisaria haver uma mudança legislativa para a Petrobras fazer essas contribuições. De novo, noves fora nada.

Seguindo a linha dúbia, o diretor de Transição Energética [???] da petroleira, Maurício Tolmasquim, disse [de novo], em entrevista ao Nexo, que é o petróleo que vai permitir investimentos em energia renovável. Seria compreensível se a empresa investisse apenas metade do dinheiro que já recebe com os quase 1 milhão de barris de petróleo que exporta diariamente em fontes limpas, o que não acontece. Logo, parece mais uma falácia de quem defende produzir mais energia suja para no futuro aplicar recursos em energia renovável. Se o mundo resistir até lá, claro.

 

ClimaInfo, 11 de outubro de 2023.

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