Quase todos os municípios do AM estão em situação de emergência por causa da seca

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Gustavo Basso/DW

A estiagem se intensifica no estado do Amazonas e número de municípios em situação de emergência sobe para 60, prejudicando mais de 600 mil pessoas.

A Defesa Civil do Amazonas atualizou na última 4ª feira (25/10) a lista de municípios em situação de emergência por conta da forte seca que atinge a região amazônica. Até a tarde de anteontem, o estado somava 60 cidades sob emergência hídrica e apenas dois municípios em situação de normalidade (Presidente Figueiredo e Apuí). O g1 deu mais detalhes.

Para quem sofre com os efeitos da seca na Amazônia, o cenário é surreal: em plena floresta tropical, cortada por uma das maiores bacias hidrográficas do planeta, muitas pessoas estão sem água há semanas. Os rios secos isolaram comunidades inteiras no interior da floresta, que contam as gotas do que sobrou de água potável para beber.

Entre as comunidades afetadas, os indígenas sofrem ainda mais, debilitados pela deficiência estrutural no atendimento de suas necessidades e direitos básicos pelo poder público. “A sensação é de que a água está fervendo”, relatou Rosivaldo Miranda, do Povo Piratapuya, morador de Açaí-Paraná, no Baixo Rio Uaupés, citado pela Mídia Ninja. “Estamos com diarreia e dor de cabeça. E está descendo mais sujeira dos igarapés”.

Para dificultar, como o InfoAmazonia abordou, as pessoas também convivem com a fumaça dos incêndios florestais, que ganharam força com o tempo seco. “Estamos sentindo muito as fumaças e fica mais difícil porque não temos água para lavar a garganta”, disse a artesã Terezinha Ferreira, do Povo Sateré-Mawé.

Se o cenário atual já é difícil, a expectativa é de que ainda demore algum tempo para que as chuvas voltem a cair na Amazônia. “A previsão para o próximo trimestre é semelhante ao quadro dos últimos meses: a seca continua na Amazônia e as chuvas persistem no Sul”, disse Gilvan Machado, coordenador-geral de Ciências da Terra do INPE, à Deutsche Welle.

Isso porque a Amazônia, bem como a maior parte do planeta, ainda estará sob a influência do fenômeno climático El Niño. Um dos efeitos do aquecimento das águas do Pacífico Central sobre o clima global é a redução das chuvas no Norte e Nordeste do Brasil, ao mesmo tempo em que o Sul recebe mais água. Para especialistas, a seca atual na Amazônia também tem relação com a crise climática.

“Neste ano, observamos ainda que os impactos do El Niño podem estar combinados com a situação do Oceano Atlântico Tropical Norte, que influencia no aumento das chuvas acima do Equador, mas diminui ainda mais as precipitações na Amazônia”, explicou Regina Alvalá, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), durante evento da FAPESP.

Em tempo: A seca histórica na região amazônica não impediu que prefeituras da região desembolsassem milhões de reais nas últimas semanas para pagar cachê de estrelas do piseiro e do forró. De acordo com o Estadão, municípios como Nova Aripuanã, Tabatinga, Nova Olinda do Norte e Apuí pagaram ao menos R$ 2,77 milhões para nomes como Zé Vaqueiro, Xand Avião e João Gomes. Essas mesmas prefeituras pediram mais de R$ 620 milhões em recursos da União para remediar os efeitos da seca.

 

ClimaInfo, 27 de outubro de 2023.

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