Termelétricas previstas em lei podem “sujar” hidrogênio e ameaçar exportação

5 de dezembro de 2023
termelétricas x H2
Divulgação/Petrobras

Se confirmada, a implantação dessas térmicas, previstas em duas leis, altera a renovabilidade da matriz brasileira, que ficaria abaixo de 90% a partir de 2030.

A obrigatoriedade de contratar 8 GW em termelétricas prevista na Lei 14.182/2021, da privatização da Eletrobras, pode afetar os planos do Brasil de se tornar um grande produtor e exportador de hidrogênio verde. O mesmo vale para a extensão até 2040 da concessão de subsídios à usina a carvão mineral do Complexo Termelétrico Jorge Lacerda, em Santa Catarina, como determina a Lei 14.299/2022. A operação dessas plantas afetaria a renovabilidade da matriz brasileira, impactando os critérios de sustentabilidade definidos pela União Europeia (UE) para o energético.

Segundo um estudo feito pela PSR para o Instituto Clima e Sociedade (ICS), a UE definiu dois modelos de fornecimento de eletricidade para plantas de hidrogênio. No direto (off-grid), uma planta de geração é conectada diretamente à planta de H2, enquanto no indireto (on-grid), a energia vem da rede elétrica.

No primeiro, é necessário fornecimento constante de energia para o melhor funcionamento do eletrolisador, missão difícil para solares e eólicas. Já no outro, a geração elétrica no país precisa ser, no mínimo, 90% renovável, ou ter intensidade de carbono inferior a 18 gCO2e/MJ. O primeiro cenário foi considerado desvantajoso em relação ao segundo, destaca o Canal Energia.

Para avaliar se o Brasil poderá se enquadrar nesses critérios, a PSR projetou dois cenários: um, chamado Status Quo, com todas as UTEs entrando em operação. No outro, definido como Frustração, 2,8 GW são construídos.

Apesar da incerteza quanto ao percentual das gerações hídrica, eólica e solar a compor a matriz nesse período, o destaque do estudo é que a entrada de todas as térmicas da Lei da Eletrobras faria com que, a partir de 2030, os limites mínimos estabelecidos sejam quebrados.

“Os resultados mostram o impacto que uma única medida governamental pode ter sobre a expansão da matriz elétrica brasileira e o atendimento aos critérios europeus. No longo prazo, contudo, outras medidas poderão ter relevante impacto, impulsionando a expansão das térmicas a gás inflexíveis e prejudicando as chances do Brasil se tornar um grande exportador de hidrogênio e derivados”, diz o estudo.

O “jabuti” das térmicas da Eletrobrás e a carvão se torna ainda mais preocupante quando se sabe que, nos últimos 17 anos, em mais da metade deles, as emissões do setor elétrico superaram o limite estabelecido pela União Europeia para o hidrogênio. Nesse período de tempo, as usinas eólicas e solares ganharam mais peso na matriz elétrica nacional. Mas foram acompanhadas por uma expansão, ainda que em número bem menor, de térmicas a combustíveis fósseis. Que acabam sendo acionadas como tábua de salvação em momentos de crise hídrica.

Movimento Econômico, Bahia Jornal, Tribuna Hoje, Correio dos Municípios e Justiça em Foco também destacaram o estudo da PSR sobre hidrogênio.

 

ClimaInfo, 6 de dezembro de 2023.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.

Continue lendo

Assine nossa newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Glossário

Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
1 Aulas — 1h Total
Iniciar