Petrobras e a miragem da “última petroleira em pé”

5 de dezembro de 2023
Petrobras última petroleira em pé
Divulgação Petrobras

Não basta o Brasil ganhar o antiprêmio “Fóssil do Dia” na COP28: o CEO da Petrobras quer mesmo transformar o país no “Fóssil do Milênio”.

Por aderir à OPEP+, cartel que reúne países que não têm o menor interesse em reduzir a produção e o consumo de petróleo e gás, o Brasil recebeu na COP28 o antiprêmio “Fóssil do Dia”, dado pela Climate Action Network (CAN) a nações que atrapalham ou prejudicam a luta contra a crise climática. E no que depender do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, o país deve acumular novas “premiações” similares por muitos e muitos anos, já que os combustíveis fósseis não saem dos seus planos. O “Fóssil do Dia” vai virar “Fóssil do Milênio”. Isso, claro, se ainda houver humanidade até lá.

Prates reafirmou o que já tinha dito no início deste ano, logo depois de assumir o comando da petroleira estatal: a Petrobras será uma das últimas empresas do setor a parar de explorar petróleo. Questionado pela Agência Pública se ele tem a intenção de que isso ocorra, respondeu: “Não tenho essa intenção. Acontecerá isso”.

Prates até poderia argumentar que isso aconteceria porque os primeiros a interromperem a escalada dos combustíveis fósseis deveriam ser os países ricos, já que são os principais responsáveis pelo estrago climático. Mas sua explicação passa longe disso.

Ele argumenta que petroleiras estatais como a Petrobras, a ADNOC, presidida por Sultan Al-Jaber, presidente da COP28, e a gigante Saudi Aramco, da Arábia Saudita, teriam “menos agilidade” que companhias privadas como Exxon e Chevron (o exemplo é irônico, já que ambas vêm apostando forte em petróleo e gás) para trocar combustíveis fósseis por fontes renováveis. Além disso, diz que essas estatais serão “cobradas” [??!!] a “herdar a responsabilidade” de fornecer o “resto” dos combustíveis fósseis de que o mundo precisaria.

E vai além, numa explicação que não convenceria nem uma criança de jardim de infância: “E não vai haver problema nisso, de fazer operações cada vez mais descarbonizadas. O mundo vai dizer assim: ‘olha, ainda preciso de petróleo, por favor, tente ser o mais descarbonizado possível para que você cumpra essa missão e nos supra enquanto nós fazemos a transição’”.

A “descarbonização” de Prates responde por uma sigla: CCUS, que é a captura, uso e armazenamento de carbono. A tecnologia vem sendo incensada por petroleiras e Petroestados para justificar a manutenção da produção de combustíveis fósseis, e acordos para seu desenvolvimento também vêm ocorrendo na COP. Apesar de ser algo totalmente novo, caro e de sucesso ainda desconhecido.

A própria Petrobras assinou na conferência do clima um protocolo com o governo do estado do Rio de Janeiro para implantar um centro de captura e armazenamento de carbono, informa a Veja. Segundo o vice-governador e secretário do Ambiente e Sustentabilidade [??!!] do Rio, Thiago Pampolha, o empreendimento teria capacidade de capturar 20 milhões de toneladas de CO2 por ano. Como, quando e a que custo, ninguém sabe, ninguém viu.

Com um novo acordo, assinado por cerca de 50 petroleiras na COP28, para descarbonizar operações, Prates se permitiu até mesmo mudar o nome do setor de petróleo e gás fóssil. Segundo a Exame, ele sugere mudar a nomenclatura de “empresas de petróleo” para “empresas de petróleo em transição”.  É de chorar. De raiva.

 

ClimaInfo, 6 de dezembro de 2023.

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