Presidente da COP28 tenta se resguardar depois de fala negacionista sobre eliminação de combustíveis fósseis

COP28 presidente negacionista
UNFCCC Flickr / COP28

Questionado por ter rejeitado a base científica das propostas de phase-out dos fósseis, al-Jaber diz “defender a ciência”, mas não esclarece fala negacionista perpetrada anteontem.

Em mais um escorregão público, o presidente da COP28, Sultan Al-Jaber, teve que responder às acusações de que teria negado a base científica às propostas de eliminação progressiva dos combustíveis fósseis como caminho para viabilizar um limite de 1,5ºC ao aquecimento global neste século.

A polêmica aconteceu depois do Guardian recuperar uma fala de Al-Jaber durante evento prévio à COP28 no final de novembro. Ao lado de lideranças como a ex-presidente da Irlanda, Mary Robinson, o chefe da COP de Dubai afirmou que não haveria evidências científicas que comprovem que o fim do consumo de combustíveis fósseis pudesse restringir o aquecimento dentro dos 1,5ºC definidos como limite pelo Acordo de Paris.

“Mostre-me o roteiro para uma eliminação progressiva dos combustíveis fósseis que permitirá o desenvolvimento socioeconômico sustentável, a menos que você queira levar o mundo de volta às cavernas”, disse al-Jaber naquela ocasião. 

A fala de Al-Jaber abriu mais um flanco para críticas de ativistas climáticos e observadores sobre o festival de conflitos de interesse na Presidência da COP28. Vale lembrar: ao mesmo tempo em que preside as negociações climáticas deste ano, Al-Jaber também é CEO da petroleira estatal ADNOC. 

Em uma confusa coletiva de imprensa na última 2ª feira (4/12), Al-Jaber tentou mitigar parte dos danos públicos à imagem da Presidência da COP. Ao mesmo tempo em que disse “defender sempre a ciência”, o executivo não esclareceu se, de fato, não enxerga qualquer base científica às demandas pelo phase-out dos combustíveis fósseis. “Uma declaração tirada do contexto, com deturpação e má interpretação”, afirmou Al-Jaber sobre o episódio.

Em sua primeira manifestação desde a confusão, Mary Robinson foi diplomática, mas direta. “Uma COP28 bem-sucedida não depende de um único indivíduo ou nação, mas da vontade coletiva e dos esforços concertados de todos os países nestas negociações. A ciência nos obriga a eliminar gradual e rapidamente os combustíveis fósseis, acelerar a adoção de energias renováveis e aumentar radicalmente o financiamento [para ação climática]”, afirmou a líder do grupo The Elders em um post no falecido Twitter.

Folha e Valor abordaram o vai-e-vem de Al-Jaber e os efeitos do episódio nos corredores da COP28.

 

ClimaInfo, 6 de dezembro de 2023.

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