Planeta caminha para 2,5ºC de aquecimento sobre níveis pré-industriais

aquecimento global 2 graus e meio
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Sem mitigação adicional e imediata, pesquisadores argumentam que a temperatura média pode subir bem acima do 1,5ºC definido pelo Acordo de Paris já nesta década.

Urgência. Essa palavra sintetiza as recomendações de alguns dos cientistas climáticos mais renomados do mundo sobre o que a Terra pode enfrentar nos próximos anos e décadas por conta das mudanças climáticas. Para eles, a meta de 1,5ºC para limitar o aquecimento global neste século, como definido pelo Acordo de Paris, pode ficar inviável ainda nesta década.

O Guardian ouviu centenas de cientistas climáticos, incluindo pesquisadores envolvidos na formulação dos relatórios do Painel Intergovernamental da ONU para Mudança do Clima (IPCC) para coletar seus diagnósticos sobre o panorama climático global. Quase 80% dos entrevistados preveem um aquecimento de pelo menos 2,5ºC. Apenas 6% afirmaram que o limite de 1,5ºC não será superado.

O diagnóstico leva em consideração a trajetória do aquecimento global nas últimas décadas e a resposta empreendida pelos governos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. A insuficiência dessa resposta é consensual: mais de 30 anos depois da assinatura da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC), os países ainda não conseguiram reverter a trajetória de aquecimento cada vez maior do planeta.

Os cientistas também foram convidados a explorar os efeitos que um aquecimento superior a 2,5ºC pode causar à humanidade e à vida na Terra. A constatação mais frequente é de que o mundo se aproxima perigosamente de um cenário de clima cada vez mais extremo que pode se refletir em condições sociais também mais radicais.

“Penso que estamos caminhando para uma grande perturbação social nos próximos cinco anos”, afirmou a pesquisadora Gretta Pecl, da Universidade da Tasmânia (Austrália). “[As autoridades] ficarão sobrecarregadas com evento extremo após evento extremo, a produção de alimentos será interrompida. Eu não poderia sentir maior desespero em relação ao futuro”.

Para os próprios cientistas, seus diagnósticos causam um misto de sensações. Por um lado, uma frustração pelo fato de que, mesmo depois de décadas de pesquisas e alertas, pouco foi feito para evitar o pior. Isso se reflete em episódios frequentes de depressão e ansiedade, intensificados por conta dos novos estudos e da procissão de desastres climáticos que acontece ao redor do mundo.

Por outro lado, enquanto poucos ainda reservam algo que poderíamos chamar de esperança, outros mais numerosos entendem que, em face ao que pode vir, desistir seria uma opção pior. “Nesses momentos [de frustração], duas coisas me ajudam: lembrar quanto progresso aconteceu desde que comecei a trabalhar no tema em 2005 e que cada décimo de grau importa muito”, destacou Henri Waisman, pesquisador do IDDRI (França). “Isso significa que ainda sou útil para continuar a luta.”

 

ClimaInfo, 9 de maio de 2024.

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