Verba para reconstrução do RS após eventos climáticos extremos foi 20 vezes maior que para prevenção

8 de maio de 2024
Enchentes RS reconstrução 2
Globonews

Na diferença gritante entre os recursos aplicados em prevenir e corrigir efeitos da crise climática, há perdas de vidas e histórias que poderiam ser evitadas.

Governos e parlamentares falham enormemente em tratar as mudanças climáticas com a seriedade e a urgência que estas necessitam. Não priorizam a elaboração de planos de adaptação e mitigação, nem investem recursos em ações para evitar o pior para a população. Quando o pior acontece, como agora, na tragédia climática no Rio Grande do Sul, vê-se a enorme diferença entre o prevenir e o remediar. No meio disso há perdas humanas e materiais que poderiam ter sido evitadas.

Um levantamento apresentado pela Globonews mostra que os recursos federais para o Rio Grande do Sul para ações de reconstrução após eventos climáticos extremos totalizaram R$ 466,1 milhões de 2022 a 2024. A cifra é 20 vezes o destinado à prevenção no estado no mesmo período, R$ 22,9 milhões.

Adaptação e mitigação são temas raramente tratados em planos de governo de candidatos ou, quando o são, surgem de modo tímido. Como mostra Malu Gaspar n’O Globo, a prevenção a desastres e a mitigação dos efeitos de tempestades não foram abordadas nos planos de campanha do governador gaúcho, Eduardo Leite (PSDB), e do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), registrados no TSE. O plano do presidente Lula defendeu o “enfrentamento” e o “combate” à crise climática, mas sem iniciativas ou projetos.

E não é por falta de aviso. Afinal, desastres ambientais em decorrência de chuvas vêm sendo recorrentes nos últimos anos na maioria dos 336 municípios gaúchos que tiveram o estado de calamidade pública decretado pelo governo federal. A Lupa mostra que 90,17% dessas cidades já decretaram alguma situação de emergência ou estado de calamidade devido a chuvas ou causas associadas entre 2013 e 2023, a exemplo de deslizamentos.

Mas a cifra citada acima para correção não é nada perto do que será necessário para reconstruir um Rio Grande do Sul quase totalmente arrasado, com 417 de suas 496 cidades afetadas pelas chuvas extremas. Até o início da tarde de 4ª feira (8/5) o estado contabilizava 100 mortos, 128 desaparecidos e 372 feridos, com 66.761 desabrigados, instalados em alojamentos cedidos pelo poder público, e 163.720 desalojados, informam Folha e CNN. Mais de 80 comunidades indígenas foram atingidas, segundo o Correio Braziliense. E a situação deve piorar, com mais chuva, além de frio e ventos fortes, a caminho até o próximo domingo, relatam g1 e CNN.

O ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, falou em R$ 1 bilhão somente para recuperar estradas. O agronegócio calcula prejuízos de R$ 500 milhões. Os municípios calculam pelo menos 100 mil imóveis destruídos ou danificados, segundo o g1, mas esse número pode aumentar. De acordo com a Confederação Nacional dos Municípios (CNM), o prejuízo no setor habitacional já chegaria a R$ 3,4 bilhões.

O prejuízo é equivalente à inédita gravidade da tragédia climática atual. A chuva acumulada em cidades gaúchas em 15 dias chegou a igualar toda a média de precipitação prevista para cinco meses. As cidades de Fontoura Xavier, com 778 mm, e Caxias do Sul, com 694 mm, aparecem no topo da lista dos dados do CEMADEN analisados pela Climatempo e obtidos pelo g1.

 

ClimaInfo, 9 de maio de 2024.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.

Continue lendo

Assine nossa newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Glossário

Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
1 Aulas — 1h Total
Iniciar