Guerra entre Rússia e Ucrânia quase inviabilizou a realização da COP29 no leste europeu em 2024; escolha é polêmica por ser mais um petroestado ditatorial.
A espera acabou – ao menos até segunda ordem. Depois de muito suspense, finalmente os países do leste europeu se alinharam em torno do Azerbaijão como sede da próxima COP29 em 2024. Será a primeira vez que a região do Cáucaso receberá uma Conferência da ONU sobre o Clima.
A decisão em torno do anfitrião da COP29 se prolongou por mais de um ano. Inicialmente, a Bulgária se prontificou a receber o evento, mas foi vetada pela Rússia por conta das sanções da União Europeia contra o regime de Vladimir Putin relacionadas à invasão russa à Ucrânia.
Além da Bulgária, Azerbaijão e Armênia também apresentaram suas candidaturas para receber a Conferência do Clima em 2024. Os dois países vivem uma relação conflituosa por conta de divergências territoriais; mais recentemente, tropas azeris invadiram e ocuparam o enclave armênio de Nagorno-Karabakh, expulsando a população para o país vizinho.
Por isso, os dois governos surpreenderam ao anunciar na semana passada um entendimento diplomático para viabilizar a realização da COP29 no Azerbaijão, como parte de um esforço de pacificação. A novidade destravou o impasse e o último obstáculo, a Rússia, deu sinal positivo à candidatura azeri no último sábado (09/12).
Com isso, é praticamente certo que a ONU confirmará o Azerbaijão como sede da COP29 ao final da Conferência de Dubai. Para ativistas climáticos e observadores, a escolha reforça o mal-estar com o processo diplomático da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC). Afinal, se confirmado, será o 3o ano consecutivo de COPs em países autoritários, com um péssimo histórico de Direitos Humanos.
Outro incômodo é o perfil econômico do Azerbaijão, um país que tem 75% de sua economia baseada na produção de combustíveis fósseis. De uma certa forma, é uma “volta ao passado”, já que o Azerbaijão é o berço da indústria petrolífera moderna, com as primeiras explorações ocorrendo ainda no século XIX. Assim, a COP29 acontecerá no local que testemunhou o começo da era econômica que causou a crise climática que agora precisa ser enfrentada.
Bloomberg, Climate Home, Financial Times, Reuters e Washington Post, entre outros, repercutiram a escolha pelo Azerbaijão para sediar a COP29 em 2024. O Estadão também tratou do vai-e-vem em torno dessa decisão.
Em tempo: A COP28 testemunhou a maior manifestação popular dentro do espaço oficial de negociação da história das Conferências Climáticas. Centenas de pessoas tomaram os largos corredores do Expo City Dubai para protestar contra a inação dos países e em defesa da Justiça Climática. A manifestação aconteceu dentro do espaço da COP por conta da proibição imposta pelos Emirados Árabes a qualquer tipo de protesto de rua. Mas a repressão não ficou do lado de fora: de acordo com a Reuters, ativistas reclamaram de perseguição por parte do Secretariado da UNFCCC, que teria restringido a pauta que os manifestantes tratariam da manifestação – em particular, os pedidos por cessar-fogo na Faixa de Gaza. Bloomberg, Financial Times, Inside Climate News e NY Times abordaram a manifestação e as dificuldades enfrentadas pelos ativistas em Dubai.
ClimaInfo, 11 de dezembro de 2023.
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