Doações para Fundo de Perdas e Danos não cobrem nem 0,2% do necessário

COP28 perdas e danos insuficiente
Ezra Acayan/Getty

Anunciado no início da COP, fundo que precisa de recursos bilionários recebe apenas poucos milhões de promessas de alguns países, entre eles os Emirados Árabes.

Logo na abertura da COP28,  anúncio de um acordo para a operação do Fundo de Perdas e Danos – que entrou no documento final da conferência anterior somente após muita pressão dos países em desenvolvimento – encheu de esperança os negociadores. Mas, ao que parece, o fundo vai passar longe de dar às nações que mais precisam de recursos para se adaptar à crise climática o que elas necessitam.

Até meados da semana passada, os países ricos mais responsáveis pela emergência climática haviam prometido um total de pouco mais de US$ 700 milhões para o fundo de perdas e danos, mostram Valor e Guardian. É menos de 0,2% das perdas econômicas e não econômicas irreversíveis que os países em desenvolvimento sofrem enfrentando o aquecimento global todos os anos. 

As perdas e danos nos países em desenvolvimento por conta das mudanças climáticas são estimadas em valores superiores a US$ 400 bilhões por ano – e seguem aumentando. As estimativas do custo anual dos danos variam entre US$ 100 bilhões e US$ 580 bilhões.

“As promessas iniciais de US$ 700 milhões são insignificantes em comparação com a necessidade colossal de financiamento. O atraso de mais de 30 anos na criação deste fundo, juntamente com as escassas contribuições das nações ricas, especialmente dos Estados Unidos, sinaliza uma indiferença persistente à situação do mundo em desenvolvimento”, avaliou Harjeet Singh, chefe de estratégia política global da Climate Action Network (CAN).

A promessa de US$ 100 milhões dos Emirados Árabes Unidos, anfitrião da COP, foi igualada pela Alemanha e depois ligeiramente superada por Itália e França, com US$ 108 milhões cada. Os EUA, historicamente o maior emissor de gases de efeito estufa – e o maior produtor de petróleo e gás este ano –, prometeram míseros US$ 17,5 milhões, e o Japão, a terceira maior economia do mundo, US$ 10 milhões. Também anunciaram doações, a Dinamarca (US$ 50 milhões); Irlanda e União Europeia (cada uma com US$ 27 milhões); Noruega (US$ 25 milhões); Canadá (menos de US$ 12 milhões); e Eslovênia (US$ 1,5 milhão).

Além dos parcos valores, a professora de Relações Internacionais e Estudos Ambientais da University of Southern California (USC Dornsife), Shannon Gibson, questiona a própria operacionalização do fundo no The Conversation

“O fundo não apresenta especificações sobre escala, metas financeiras ou como será financiado. Simplesmente ‘convida’ as nações desenvolvidas a ‘liderarem’ a oferta de financiamento e suporte, além de encorajar compromissos de outras partes. Também deixa de detalhar quais países serão elegíveis para receber financiamento e afirma vagamente que seria para ‘perda e dano econômico e não econômico associado aos efeitos adversos das mudanças climáticas, incluindo eventos climáticos extremos e eventos de início lento’”.

Outra dúvida é sobre um possível enfraquecimento da destinação de recursos para adaptação climática, tema que foi discutido na COP28, mas que deixou lacunas ao fim da conferência. Segundo Mikko Ollikainen, chefe do Fundo de Adaptação, vários governos mencionaram a aprovação do novo Fundo de Perdas e Danos entre as razões para oferecer menos dinheiro para adaptação, informa o The Straits Times. Para quem já não gosta de coçar o bolso – os “pobres” países ricos –, qualquer vírgula pode mesmo virar ponto.

 

ClimaInfo, 13 de dezembro de 2023.

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