Frente às mudanças climáticas, gestão de risco precisa agir de maneira antecipatória, aponta especialista

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Defesa Civil SP

Para Fernando Nogueira, integrante da Secretaria Nacional de Periferias, o espaço urbano precisa de planejamento da gestão de riscos para a nova realidade climática.

O Brasil tem sofrido impactos visíveis das mudanças climáticas nos últimos meses: seca na Amazônia, incêndio no Pantanal, onda de calor no Sudeste e Centro-Oeste e chuvas torrenciais no Sul. Diante disso, a gestão de risco – lei atualizada pela última vez em 2014 – precisa se adequar às novas realidades imprevisíveis (ou previsíveis, em alguns casos). É o que pensa Fernando Nogueira, especialista em gestão de riscos ambientais urbanos e integrante da Secretaria Nacional de Periferias.

Imagine que você viva em uma casa mal ventilada, com telha de eternit, em uma região de adensamento urbano, com má organização espacial e de edificação. Adicione a isto uma sensação térmica de 60ºC. Essa realidade foi vivida por muitos brasileiros nas últimas semanas. “Muitas das obras feitas para conter encostas, hoje, são ilhas de calor”, afirma Nogueira, “o mapeamento de risco ficou muito focado nessa temática, de encostas e inundações, sendo que as mudanças climáticas nos trazem riscos diversos”. 

O especialista aponta que diversas obras de contenção de risco foram feitas de forma brutal, estigmatizando e excluindo ainda mais as comunidades pobres. É o caso da realizada no Jardim Regina, na periferia de São Bernardo do Campo. O concreto que impermeabiliza o solo e soterra rios precisa dar lugar a um olhar mais abrangente de território: para além dos riscos, entender as vulnerabilidades e potencialidades. 

O governo federal tem se mostrado mais disposto a promover ações de mitigação e contenção da crise climática. Recentemente, André Quintão, secretário nacional de Assistência Social, disse em entrevista à Folha que não existe mais “aquele modelo ‘em tal período vai ter chuva’” e sinalizou interesse em atualizar medidas para ampliar a proteção social diante da crise climática.

Conhecimento e participação popular

Para Nogueira, o conhecimento sobre as mudanças climáticas é essencial para a virada de chave no enfrentamento desta nova realidade, tanto para gestores políticos quanto para a população. “Eu já escutei muito que ‘estávamos preparados, mas não para tanto’”, relembra. 

A análise de risco feita nos territórios deve priorizar as regiões mais vulneráveis, com uma leitura que indique qual qualificação ambiental é necessária nessas áreas. Mas, um grande diferencial, destaca o especialista, é a participação da comunidade. “Os moradores são parte desse conhecimento, precisam participar dessa produção”, afirma. 

É necessário olhar para o território para além da geologia, e aí, soluções com base na Natureza também são bem-vindas. “Como a água se comporta, como a vegetação se comporta, como o calor incide nessa área, como o ar circula?”, questiona, “melhorar o ambiente urbano nessas áreas de risco requer uma reformulação do pensamento, da engenharia”. 

É uma abordagem de difícil incorporação tanto no campo da ciência quanto na política, reconhece Nogueira, mas o assunto tem ganhado força dentro do governo. Com os fatos, ou melhor, desastres ambientais, nos espremendo contra a parede, não há muito para onde correr. 

Basta saber em qual velocidade a política brasileira se moverá para criar as novas regras do jogo: na necessária para termos o menor número de vítimas possíveis, ou na velha reativa. 

 

ClimaInfo, 23 de janeiro de 2024.

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