Brasil lidera o uso de agrotóxicos no mundo, mostra levantamento da FAO

19 de fevereiro de 2024
PL do Veneno
Alberto César Araújo/Amazônia Real

País usou mais veneno em suas lavouras do que China e EUA juntos, e um efeito disso é a contaminação do Rio Araguaia por defensivos.

A mesma bancada ruralista que vocifera contra os direitos indígenas ao território e minimiza as mudanças climáticas que o agronegócio brasileiro ajudou a agravar defende com unhas e dentes os agrotóxicos. Assim, no fim do ano passado, aprovou o Projeto de Lei 1.459/2022, o PL do Veneno e do Câncer, flexibilizando regras para o uso e o registro de agrotóxicos no país. O PL foi sancionado pelo presidente Lula com vetos, que ainda podem ser derrubados pelos parlamentares.

O fato é que mesmo antes disso, em 2021, ainda durante o governo do inominável, o Brasil usou mais agrotóxicos em suas lavouras do que China e Estados Unidos juntos. Naquele ano, foram aplicadas 719,5 mil toneladas de venenos contra pestes em lavouras nacionais. A China, que tem quase sete vezes mais habitantes que o Brasil, aplicou 244 mil toneladas. Já os EUA, outra potência agropecuária global,  aplicaram 457 mil toneladas. Os dados são de um levantamento da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, sigla em Inglês) destacado por Brasil de Fato, Metrópoles e Terra.

Segundo a FAO, o Brasil usou 10,9 kg de agrotóxicos para cada hectare de lavoura. Os EUA, 2,85 kg/ha, e a China, 1,9 kg/ha. Quando o veneno é dividido por habitante, em 2021 foram usados no Brasil 3,31 kg de agrotóxicos por pessoa; nos EUA, 1,36 kg; e na China, 0,17 kg per capita.

Se os números são alarmantes, seus efeitos perversos são comprováveis. Um estudo publicado na Environmental Advances mostra um alto nível de contaminação por agrotóxicos nas porções média e alta do Rio Araguaia. O curso d’água tem níveis de atrazina, carbendazim, cianazina, imidacloprida, 2,4-D, clomazone, clorpirifós etil e imazalil acima dos aceitos na União Europeia, detalha ((o))eco.

O Araguaia flui por cerca de 2.100 km desde a Serra do Caiapó, próxima ao Parque Nacional das Emas, em Goiás, avançando por Mato Grosso, Tocantins e Pará até desaguar no Rio Tocantins. Frente de desenvolvimento econômico convencional, a bacia do Araguaia é uma das regiões mais devastadas do Cerrado nos últimos anos.

A eliminação da vegetação natural para ampliar as lavouras de soja e de outros itens exportados e consumidos no país compromete não só a quantidade de água, inclusive para o agronegócio, como também aumenta a poluição dos rios por agrotóxicos. E o que se vê no Araguaia é um exemplo explícito disso.

Mas, infelizmente, o envenenamento de rios e solos por agrotóxicos não é exclusividade da Bacia do Araguaia. Uma outra pesquisa revela alta concentração de agrotóxicos e metais em moradores de Mato Grosso do Sul, estado que também integra a fronteira agrícola do Centro-Oeste brasileiro.

O estudo foi realizado no ano passado pela Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (INCAB). Os pesquisadores decidiram fazer o estudo em seres humanos cinco anos depois que identificaram a presença dos químicos em antas que vivem na natureza na região das cidades de Nova Alvorada do Sul e Nova Andradina, explica o g1.

O INCAB coletou amostras biológicas de moradores dessas cidades para detectar a presença de agroquímicos e metais. Os pesquisadores detectaram cinco agroquímicos, sendo dois organofosforados (glifosato e malathion) e três organoclorados (pp’DDD, dieldrin e beta-BHC). Dos 94 moradores que participaram do estudo, 36 testaram positivo para algum tipo de agrotóxico, sendo que, em alguns casos, foi encontrado mais de um químico.

A ciência mostra os imensos riscos dos agrotóxicos para as pessoas e para a fauna e comprova a contaminação por esse veneno. No entanto, os dados científicos não convencem as fabricantes, que insistem em comercializar no Brasil defensivos já proibidos e restritos em outros países.

A Repórter Brasil, em matéria reproduzida pelo Brasil de Fato, mostra que a Syngenta e a Ourofino colocam evidências científicas de lado para garantir que o governo brasileiro aprove as vendas no país do tiametoxam – a decisão sobre a proibição ou liberação deve ocorrer nesta semana. O agrotóxico é fatal para as abelhas, fundamentais na polinização de culturas, e também é apontado por especialistas e ambientalistas como uma ameaça à biodiversidade.

E vale destacar: Syngenta e Ourofino têm apoio da bancada ruralista no Congresso. Não é coincidência.

 

ClimaInfo, 20 de fevereiro de 2024.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.

Continue lendo

Assine nossa newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Glossário

Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
1 Aulas — 1h Total
Iniciar