Revolta de produtores rurais desafia política climática na Europa

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FRED SCHEIBER/SIPA

Mesmo com recuos da União Europeia em metas climáticas para agricultura, produtores continuam protestando contra políticas para o setor e confrontando a polícia com violência.

A Europa segue enfrentando a revolta dos agricultores. A situação ganhou ares dramáticos nesta 2ª feira (26/2), quando um grupo de manifestantes entrou em confronto com a polícia da Bélgica durante um protesto nos arredores da sede da Comissão Europeia em Bruxelas. Pelo menos 900 tratores congestionaram as ruas do centro da capital belga, com manifestantes atirando garrafas e fogos de artifício enquanto a tropa de choque disparou canhões de água, informou o Guardian.

A manifestação aconteceu ao mesmo tempo em que ocorria uma reunião dos ministros da agricultura da União Europeia, que vêm sendo pressionados nas últimas semanas por protestos de rua em diversos países do bloco. O alvo inicial da ira dos agricultores era a definição de metas específicas de redução de emissões para o setor agrícola dentro dos novos objetivos climáticos da UE. A pressão acabou resultando em um recuo da Comissão Europeia, que excluiu a agricultura das discussões climáticas.

Porém, a irritação dos agricultores não diminuiu. Novas demandas foram colocadas à mesa, especialmente por mais apoio financeiro dos governos europeus aos produtores rurais, que ainda sofrem com preços baixos e margens estreitas de rentabilidade. A concorrência de produtores estrangeiros também é uma reclamação dos agricultores europeus, que defendem o fim de acordos de livre comércio que facilitem a entrada de produtos primários de outros mercados – como, aliás, é o caso do acordo de livre comércio entre UE e Mercosul.

Não à toa, um dos alvos prediletos dos agricultores europeus tem sido o presidente da França, Emmanuel Macron. No último sábado (24), o líder francês passou por apuros durante uma visita a uma feira agrícola em Paris, quando uma multidão de manifestantes conseguiu entrar no espaço e forçou a segurança presidencial a retirá-lo às pressas do local. AFP e NY Times deram mais detalhes.

A situação europeia pode ser o prenúncio de novos problemas no horizonte da transição verde global. “A UE pode estar enfrentando este problema de forma mais aguda agora, mas outros países não estão muito atrás. Todos teremos de ajustar as políticas de apoio agrícola para atender aos efeitos ambientais e de saúde dos nossos sistemas agroalimentares, e temos de garantir que os agricultores e as comunidades rurais não fiquem abandonada nesse processo”, destacou o economista Christopher Barrett, da Universidade de Cornell (EUA), à Foreign Policy.

A pauta dos agricultores caiu como luva nas mãos de partidos populistas de direita e de extrema-direita, de olho nas eleições para o Parlamento Europeu em junho. As pesquisas de intenção de votos indicam um crescimento dos direitistas para a votação, o que pode indicar dificuldades futuras para que a Comissão Europeia consiga aprovar políticas climáticas mais ambiciosas em seu braço legislativo.

Ironicamente, esses mesmos grupos políticos estão defendendo medidas que, no longo prazo, somente intensificarão os problemas enfrentados hoje pelos produtores rurais na Europa. “Os políticos esperam ganhar votos atribuindo a culpa pela situação difícil dos agricultores à proteção ambiental. Estes são os intervenientes que defendem o sistema de subsídios e regras que beneficia apenas as maiores e mais industriais explorações agrícolas”, observou Marco Contiero, diretor de política agrícola do Greenpeace europeu.

 

ClimaInfo, 27 de fevereiro de 2024.

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