IBAMA restringe uso do tiametoxam, agrotóxico letal às abelhas

26 de fevereiro de 2024
tiametoxam
Boris Smokrovic / Unsplash

Após 10 anos em reavaliação, órgão ignora o lobby de empresas e campanhas de desinformação e proíbe uso de aviões e tratores para aplicar produto.

As abelhas e o agronegócio responsável e sustentável do Brasil agradecem: o IBAMA decidiu restringir o uso do agrotóxico tiametoxam para proteger insetos polinizadores. Com a medida, os agricultores ficam proibidos de usar o veneno por meio de pulverizações por aviões e tratores. Já a aplicação direta no solo e em tratamento de sementes está permitida.

A aplicação do tiametoxam por pulverização estava sendo reavaliada há mais de 10 anos, lembra a Agência Pública, por ser um dos agrotóxicos mais letais às abelhas. O processo de revisão foi alvo de lobby da fabricante brasileira Ourofino e da multinacional suíça Syngenta, mostrou a Repórter Brasil.

O principal argumento utilizado pelas empresas em prol do agrotóxico era o risco de perda econômica dos produtores rurais. A pressão do agro incluiu também a contratação de um ex-servidor do Ministério da Agricultura para ajudar nas negociações com órgãos públicos, além de uma campanha online que se baseou em um estudo limitado para defender a substância.

Apesar da pressão, o IBAMA manteve a posição de restringir a substância. Assim, estabeleceu que os produtos com tiametoxam adquiridos até a data de publicação do comunicado (5ª feira, 23/2) poderão ser utilizados até o seu fim, conforme as especificações do rótulo e da bula que estavam definidas no momento que o produtor comprou o produto. E que, em um prazo de 180 dias, os fabricantes de tiametoxam se adequem às novas normas no rótulo e na bula, deixando claro os riscos do material para insetos polinizadores, detalha o g1.

Diversas pesquisas científicas relacionam o uso do veneno com a mortandade em massa de abelhas, destaca o Brasil de Fato. Os neonicotinóides, agrotóxicos feitos à base de nicotina, como o tiametoxam, atingem o sistema nervoso central das abelhas, causando desorientação. E provocam sequelas em seu sistema de aprendizagem, digestão e imunológico, podendo levar à morte.

Em 2018, a União Europeia proibiu o seu uso para proteger os insetos polinizadores, que são essenciais à reprodução de diversas espécies de plantas, sendo portanto importantíssimos para o desempenho (e a lucratividade) dos produtores rurais. O uso do tiametoxam é restrito no Canadá, enquanto os Estados Unidos estão avaliando restrições ou a proibição de seu uso, segundo o Pará Terra Boa.

Em janeiro, o IBAMA também restringiu o uso do fipronil, outro agrotóxico fatal para abelhas. Pela decisão, está proibida a aplicação em folhas e flores em todo o território nacional. No entanto, explica a Folha, embora tenha mantido sua aplicação em solo e no tratamento de sementes, o órgão ambiental avisou que também está analisando os efeitos dessas alternativas – o que é interpretado como espaço para o país banir o produto, como fizeram União Europeia e países como Colômbia e Costa Rica.

Um levantamento da FAO mostra que em 2021 o Brasil usou mais agrotóxicos em suas lavouras do que China e EUA juntos. Foram aplicadas 719,5 mil toneladas de venenos contra pestes em lavouras nacionais. A China, que tem quase sete vezes mais habitantes que o Brasil, aplicou 244 mil toneladas. Já os EUA, outra potência agropecuária global,  aplicaram 457 mil toneladas.

A restrição do tiametoxam pelo IBAMA também foi repercutida por Globo Rural e Gigante 163.

 

ClimaInfo, 27 de fevereiro de 2024.

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