UE quer que indústria de combustíveis fósseis pague combate às mudanças climáticas

UE big oil paga combate mudanças climáticas
EPA-EFE/Glasgow Actions Team / Handout

Esboço de declaração para encontro de ministros das Relações Exteriores mostra que bloco defenderá que setor de petróleo e gás deve contribuir com financiamento climático.

Cientistas já comprovaram exaustivamente que a queima de combustíveis fósseis é a maior responsável pela emissão de gases de efeito estufa e, por isso, a principal causadora das mudanças climáticas que afetam o planeta. Mesmo assim, as petroleiras fingem que não são culpadas pela tragédia climática e se esquivam o quanto podem de pagar essa conta, enquanto continuam registrando lucros bilionários ano a ano.

Esse cenário, porém, pode mudar. Isso porque a União Europeia está prestes a propor que a indústria de combustíveis fósseis contribua financeiramente para o combate às mudanças climáticas em países mais pobres, mostra um documento preliminar ao qual a Reuters teve acesso. Um rascunho de declaração para uma reunião dos ministros das Relações Exteriores da UE, marcada para este mês, mostra que o bloco argumentará que o setor de petróleo e gás também deve contribuir. E com dinheiro.

O financiamento climático é o tema principal da COP29, que vai acontecer em novembro em Baku, no Azerbaijão. As negociações vão incluir um prazo para os países concordarem com uma nova meta de quanto as nações ricas e industrializadas devem pagar às mais pobres para se ajustarem aos impactos severos de um mundo cada vez mais afetado por eventos climáticos extremos.

“Reconhecendo que apenas as finanças públicas não podem fornecer a quantia necessária para a nova meta, fontes adicionais, novas e inovadoras de financiamento de uma ampla variedade de origens, incluindo do setor de combustíveis fósseis, devem ser identificadas e utilizadas”, diz o rascunho da declaração, também reproduzido pelo Business Times.

A tarefa, porém, não será fácil. Além dos ministros ainda poderem alterar o texto, a indústria de petróleo e gás fóssil não se mostra disposta nem mesmo a reduzir a oferta de combustíveis fósseis. Pelo contrário.

O aumento da produção de combustíveis fósseis é altamente recompensado na maioria do Big Oil – que reúne as maiores petroleiras do planeta –, apesar das suas ambiciosas metas climáticas. É o que mostra um relatório do think tank financeiro Carbon Tracker, destacado pela Euronews. O estudo analisou a política de incentivos de 2022 em 25 das maiores empresas cotadas em bolsa por volume de produção sediadas fora da Rússia. E apenas uma – a Occidental Petroleum, dos Estados Unidos – não prometia remuneração extra para esse crescimento.

Falando em Estados Unidos, o ex-enviado especial para o clima, John Kerry, disse que seu país continua sendo uma “força do bem” no enfrentamento da crise climática. O problema é que a produção estadunidense de combustíveis fósseis não para de crescer, destaca o Guardian. E Kerry justificou o aumento da produção de gás fóssil como “necessária” para o combustível substituir o carvão na geração de energia elétrica.

 

ClimaInfo, 5 de março de 2024.

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