Construção de linhão de Belo Monte em MG carrega suspeita de crime ambiental

20 de março de 2024
linhão Belo Monte crime ambiental
Ken Kistler/Public Domain Pictures

Proprietária de fazenda do Barão de Bocaina acusa a portuguesa EDP, responsável pelas obras, de avançar sobre área de preservação e derrubar ilegalmente 378 árvores.

O imenso estrago socioambiental provocado pela instalação da hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu, no Pará, é público e notório. Mas os impactos ambientais não se resumem à usina e se estendem à linha de transmissão destinada a escoar a eletricidade até o Sudeste. O último imbróglio envolve o trecho de 750 km entre Ibiraci (MG) e Cachoeira Paulista (SP) sob responsabilidade da portuguesa EDP, conta André Borges na Piauí.

Neste caminho, o linhão passa por um terreno antiquíssimo, lavrado ainda nos tempos do Império: a Fazenda Santa Cecília, no município de Delfim Moreira (MG). Quando a EDP obteve a concessão, os responsáveis pela fazenda concordaram que 20 torres de transmissão fossem construídas na área. Por cinco anos, tudo transcorreu sem problemas. Mas, em meados de 2021, a administradora da Santa Cecília, a advogada Lavinia Moraes de Almeida Nogueira Junqueira, começou a notar problemas.

Lavinia é uma das herdeiras do proprietário original da fazenda, Francisco de Paula Vicente de Azevedo, banqueiro e comerciante que, em 1887, recebeu o título de Barão de Bocaina. Ela diz que funcionários da EDP desmataram trechos de floresta e usaram madeira nobre para fazer tábuas, que eram dispostas no chão para facilitar o tráfego na estrada. Inconformada, acionou o IBAMA e o ICMBio, acusando a EDP de avançar indevidamente sobre uma área de preservação ambiental. A denúncia resultou na abertura de processos administrativos, que tramitam até hoje nos dois órgãos. Mesmo depois disso, ela relata, a empresa não mudou de comportamento.

Ainda segundo a advogada, também ocorreram escavações em morros com nascentes e poluição de cursos d’água, o que provocou a morte de peixes. O levantamento contratado por Lavinia acusou a derrubada de 378 árvores de forma ilegal, informa a Folha.

As equipes da EDP precisam passar pela área da fazenda, usando estradas que abriram, para manutenção das torres de transmissão. A proprietária da Santa Cecília afirma, porém, que a empresa fez mais acessos que o necessário.

A companhia nega qualquer irregularidade e insinua que os impedimentos a partir das denúncias de Lavinia ameaçam a manutenção do linhão de Belo Monte. E, de quebra, o “abastecimento de energia elétrica” do Sudeste.

A estratégia da EDP de desviar a necessidade de investigação de possíveis crimes ambientais por ela cometidos com a ameaça de faltar luz recebeu o aval da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). O órgão regulador também apontou um “risco ao abastecimento” por causa do impasse.

O meio ambiente? Que espere. Assim como ocorreu com Belo Monte.

Em tempo: Preocupado com o nível de chuvas abaixo do normal em algumas regiões, e com aval do governo federal, o ONS começou a reter água nos reservatórios das hidrelétricas Jupiá e Porto Primavera, em São Paulo, e reduzir a vazão do rio Paraná, onde as unidades se localizam. O plano é preservar o armazenamento nos reservatórios utilizando mais eletricidade gerada em termelétricas e usinas eólicas e solares antes que os níveis fiquem em patamares preocupantes. Medidas adicionais semelhantes não estão descartadas caso o cenário de escassez severa venha a se tornar mais provável, explica o Valor.

 

 

ClimaInfo, 21 de março de 2024.

Clique aqui para receber em seu e-mail a Newsletter diária completa do ClimaInfo.

Continue lendo

Assine nossa newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Glossário

Este Glossário Climático foi elaborado para “traduzir” os principais jargões, siglas e termos científicos envolvendo a ciência climática e as questões correlacionadas com as mudanças do clima. O PDF está disponível para download aqui,
1 Aulas — 1h Total
Iniciar