Cientistas criticam proposta net-zero da FAO para alimentação sem redução do consumo de carne

21 de março de 2024
FAO proposta net-zero
Clark Young / Unsplash

Segundo especialistas, relatório da FAO errou ao não incluir a redução do consumo de carne bovina em roteiro contra a crise climática e a fome. 

Um grupo de cientistas criticou publicamente a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) por “rejeitar” em um relatório recente o potencial de proteínas alternativas, como carne de origem vegetal, para reduzir o impacto da pecuária sobre o clima global. A crítica foi divulgada na revista Nature Food.

Segundo os especialistas, é “preocupante e surpreendente” que a principal organização internacional para a alimentação negligencie o impacto da pecuária sobre o clima e as possibilidades de substituição dessa proteína por alternativas com pegada de carbono menor ou zero.

O relatório em questão foi publicado pela FAO na época da Conferência do Clima de Dubai (COP28), no final do ano passado. A publicação define um “mapa do caminho” para a redução das emissões dos sistemas alimentares globais e o combate à fome. No entanto, as proteínas de origem vegetal e outros tipos de solução acabaram escanteadas em favor de recomendações para intensificar a eficiência das técnicas de criação de animais.

“É muito surpreendente que a FAO não inclua uma das intervenções mais claras que ajudariam a cumprir as metas ambientais e de saúde. Também surpreende o fato de a FAO rejeitar completamente as proteínas alternativas”, afirmou a pesquisadora Cleo Verkuijl, do Stockholm Environment Institute (SEI) e uma das autoras da crítica, ao Guardian.

Outra reclamação dos especialistas é a ausência de qualquer citação à iniciativa One Health no relatório da FAO. Essa abordagem conecta a saúde humana, animal e ambiental e vem sendo defendida por diversas entidades internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e, curiosamente, a própria FAO.

“Algumas das intervenções propostas no roteiro da FAO, como a transição da carne bovina para a de frango e a intensificação da pecuária, poderiam manter ou mesmo aumentar significativamente os riscos de resistência antimicrobiana e/ou doenças zoonóticas”, afirmaram os autores.

Em tempo: Um relatório da organização Feedback Global mostrou como os principais bancos do mundo continuam investindo em cadeias produtivas de alimentação com grande impacto climático, como a da produção de carne bovina e de laticínios. Entre 2015 e 2022, as 55 maiores empresas pecuárias industriais do mundo receberam cerca de US$ 77 bilhões anuais em financiamento. Esses recursos permitiram a expansão da produção de carne bovina (9%) e de laticínios (13%) nesse período. O relatório cita os principais frigoríficos brasileiros – JBS, Marfrig e Minerva – como alguns dos maiores beneficiários desse crédito. A notícia é do Guardian.

 

ClimaInfo, 21 de março de 2024.

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