Limite de 1,5ºC para aquecimento pode ficar inviável se Trump voltar à Casa Branca, alerta Patricia Espinosa

Patricia Espinosa eleições EUA
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Para a ex-secretária-executiva da UNFCCC, a volta do ex-presidente negacionista Donald Trump ao comando dos EUA pode colocar em risco os objetivos climáticos globais . 

A disputa pela presidência dos EUA em novembro de 2024 terá repercussões mundiais, especialmente no que diz respeito às chances da humanidade evitar mudanças climáticas ainda mais profundas e prejudiciais. A avaliação é da ex-secretária-executiva da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC), a diplomata mexicana Patricia Espinosa.

Em entrevista ao Guardian, a ex-chefe da UNFCCC disse que enxerga na possibilidade do retorno do ex-presidente Donald Trump à Casa Branca uma das maiores ameaças à meta global de aquecimento de 1,5ªC neste século. “Preocupo-me [com uma vitória de Trump] porque teria consequências muito fortes, ao vermos ocorrer uma regressão nas políticas climáticas dos EUA”, disse.

Nesse ponto, Espinosa tem experiência. Seu primeiro teste de fogo como chefe das negociações climáticas da ONU foi na COP de Marrakech, no Marrocos, em novembro de 2016 – logo após a surpreendente vitória de Trump na disputa com a democrata Hillary Clinton. Coube a ela liderar o esforço diplomático para manter o Acordo de Paris vivo durante os quatro anos da gestão de Trump.

“Quando o presidente Trump anunciou que retiraria os EUA do Acordo de Paris, houve um certo receio de que outros o seguiriam e que haveria um retrocesso nas negociações climáticas. Não só isso não aconteceu, como também alguns países que ainda não tinham aderido ao Acordo de Paris o fizeram”, afirmou Espinosa.

Mas uma nova saída dos EUA do Acordo de Paris, prometida por Trump caso seja eleito em novembro, aconteceria em um momento crítico para o futuro da luta contra a crise climática. Os países signatários do Acordo de Paris deverão submeter até o ano que vem uma nova versão de suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC), com metas climáticas mais ambiciosas.

“Ainda não estamos alinhados com a meta de 1,5ªC. Essa é a realidade. No entanto, se tivermos um cenário de novos retrocessos [ao invés de mais ambição], então a probabilidade [de permanecer dentro desse limite de aumento de temperatura] será muito limitada”, destacou a ex-chefe da UNFCCC. O Valor também repercutiu a entrevista.

Enquanto isso, o governo do democrata Joe Biden segue apostando em novas medidas climáticas para impulsionar suas credenciais eleitorais nessa seara e contrastar com o negacionismo de seu antecessor e adversário. Na última 6ª feira (29/3), a Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA anunciou novas regras de poluentes que visam incentivar as vendas de veículos elétricos de médio e grande porte, como ônibus e caminhões.

De acordo com o novo regulamento, 25% dos novos caminhões de longo percurso, os mais pesados nas estradas, e 40% dos caminhões de médio porte, como os caminhões-baú e veículos de paisagismo, deverão utilizar tecnologias de baixo carbono, 100% elétricos, híbridos ou abastecidos por combustíveis renováveis.

CNN, NY Times e Washington Post, entre outros, abordaram a notícia.

 

ClimaInfo, 2 de abril de 2024.

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