Finanças são a discussão mais importante do ano, diz André Correa do Lago

Finanças André Correa do Lago
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“Iremos discutir finanças na COP 29, mas na conferência falaremos de recursos públicos; no G20 falamos de como atrair os trilhões do mercado”, explica embaixador.

Não há nenhuma dúvida de que desatar os nós que prendem o financiamento climático é uma das tarefas mais urgentes a ser feita por governos, instituições financeiras e empresas em todo o mundo. Mas, como tudo o que envolve dinheiro, além de urgente é também uma das mais difíceis. Todos admitem que o combate às mudanças climáticas exige trilhões de dólares em recursos, mas ninguém quer pagar essa conta – principalmente os países ricos e as grandes multinacionais, que são os maiores responsáveis pela crise climática.

Por isso, a principal discussão de 2024 sobre o clima envolve finanças, ressalta o embaixador André Aranha Corrêa do Lago, negociador-chefe do Brasil nas conferências de clima da ONU. Lago também colidera quatro frentes no G20, cuja presidência está a cargo do Brasil neste ano. Duas dessas frentes são tradicionais no grupo: sustentabilidade climática e ambiental e transições energéticas. As outras duas são inéditas, sugeridas pelo Brasil: mobilização global contra a mudança do clima; e bioeconomia.

Em entrevista à Daniela Chiaretti no Valor, reproduzida n’O Globo, o embaixador diferencia as nuances sobre financiamento nos dois fóruns: na COP29, a discussão envolverá recursos públicos; já no G20, “falamos de como atrair os trilhões que existem no mercado. É uma discussão que abre grandes avenidas”, explicou.

Vale lembrar que alguns estudos estimam em US$ 4 trilhões a US$ 6 trilhões ao ano os recursos necessários para o mundo transitar para o mais próximo possível do zero-carbono. A Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em inglês) diz que é preciso aumentar investimentos em energia limpa dos US$ 1,8 trilhão este ano para US$ 4,5 trilhões até 2030.

“Achar que se vai resolver o problema da crise do clima com dinheiro especificamente só para clima não existe. O que vai resolver é que o clima seja integrado nos investimentos normais. Na língua inglesa tem uma expressão muito boa, ‘mainstream’, é isso que temos que fazer. Como se faz isso? Há muitas propostas, de taxação de petróleo e outras, que iremos examinar. Se todos os investimentos a partir de agora levarem em conta o elemento clima, teremos US$ 9 trilhões ou US$ 10 trilhões para investir”, reforçou Lago.

Os recursos para o combate às mudanças climáticas e seus efeitos incluem investimentos pesados em transição energética. Segundo o embaixador, o Brasil tem um potencial único de aumentar significativamente a oferta de fontes renováveis, já que sua matriz elétrica em 2023 foi mais de 90% renovável.

Há, porém, cuidados que devem ser tomados nesse sentido, sobretudo quando se trata dos recursos públicos. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o Brasil corre risco de viver um “patrimonialismo verde”, em alusão ao lobby de empresas privadas junto ao Estado, de modo a se beneficiarem no âmbito da transição energética, informam Folha, O Globo, Estadão e Investing.com.

“Não é impossível imaginar lobbies econômicos que se unam em torno de uma bandeira tão simpática como a transformação ecológica e capturem todo o estímulo que a sociedade decida dar em forma de subsídios, de subvenções e de proteção para essa indústria nascente, e que perpetuem esses benefícios ao longo dos séculos, como acontece no Brasil com os incentivos que foram dados há 10, 15, 20 anos”, disse Haddad em palestra em São Paulo na 6ª feira (5/4).

 

 

ClimaInfo, 8 de abril de 2024.

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