A despeito da urgência climática, capacidade elétrica a carvão continuou aumentando em 2023

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Aumento líquido de 48,5 GW na capacidade elétrica à base do combustível fóssil foi o maior desde 2016 e coloca em xeque meta de 1,5°C.

Uma das medidas fundamentais para limitar a elevação da temperatura global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, como estabelecido no Acordo de Paris, é encerrar as operações de todas as termelétricas a carvão do planeta até 2040, alertam os cientistas climáticos. Isso significa fechar duas centrais à base do combustível fóssil por semana nos próximos 17 anos. No entanto, pelo que se viu em 2023, não apenas estamos distantes dessa meta como a quantidade dessa energia suja se ampliou, a despeito da urgência climática.

É o que mostra o relatório “Boom and Bust Coal 2024”, do Global Energy Monitor, lançado na 5ª feira (11/4). Segundo o estudo, a capacidade energética a carvão – o combustível fóssil com maior nível de emissões entre eles – cresceu 2% no ano passado, com o maior acréscimo de potência dessa fonte desde 2016, impulsionada por um aumento de centrais sobretudo na China e por um abrandamento no ritmo de fechamento de usinas na Europa e nos EUA.

Cerca de 69,5 gigawatts (GW) de capacidade a carvão entraram em operação no ano passado, dos quais dois terços foram na China, de acordo com o relatório. Também foram construídas termelétricas à base do combustível fóssil na Indonésia, Índia, Vietnã, Japão, Bangladesh, Paquistão, Coreia do Sul, Grécia e Zimbábue, relata o Guardian. Nos EUA e na Europa houve a desativação de mais de 21 GW em 2023. Assim, houve um aumento anual líquido de quase 48,5 GW no ano.

Além disso, o Carbon Brief destaca que a China foi responsável por 95% da construção de usinas a carvão em 2023, com o início das obras de nada menos que 70 GW, um aumento de quatro vezes sobre 2019. Por outro lado, no ano passado foi dada a partida em menos de 4 GW em obras de termelétricas a carvão no resto do mundo – o valor mais baixo desde 2014, segundo o relatório.

Uma fresta de esperança é que as novas centrais a carvão são geralmente menos poluentes do que as mais antigas, lembra o New York Times. Mas cientistas, investigadores climáticos e ativistas concordam que o abandono não apenas do carvão, mas de todos os combustíveis fósseis, tem de acontecer o mais rapidamente possível para evitar as consequências mais terríveis das mudanças climáticas.

“O futuro do carvão é uma história em duas partes: O que fazemos em relação às usinas que estão em operação atualmente e, em seguida, como garantimos que a última usina de carvão que existirá será aquela que já está construída”, disse Flora Champenois, uma das autoras do relatório. “Se não fosse pelo boom da China, é praticamente onde já estaríamos”, completou.

O problema é que a China e a Índia planejam construir usinas de carvão por muitos anos ainda. Hoje a China representa cerca de 60% do uso mundial de carvão, seguida pela Índia e depois pelos Estados Unidos. A Índia depende mais intensamente do carvão, com 80% de sua geração elétrica proveniente dele.

O relatório do Global Energy Monitor foi repercutido também por Reuters, CNN, Financial Times, SCMP e Sky News.

ClimaInfo, 12 de abril de 2024.

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