Guerra de cifras na SB60: ONU pressiona países por entendimentos sobre financiamento climático

SB60 Bonn
UNFCCC Flickr via ClimateChangeNews

O secretário-executivo da UNFCCC, Simon Stiell, pediu aos governos “progressos sérios” nas conversas de Bonn para facilitar o acordo sobre o financiamento climático na COP29. 

“Faça com que cada hora aqui conte”. Este foi o apelo de Simon Stiell, secretário-executivo da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima (UNFCCC), aos negociadores de mais de 190 países na abertura do 60º encontro dos órgãos subsidiários da Convenção na última 2ª feira (3/5) em Bonn, na Alemanha. A reunião tem como principal desafio começar a destrinchar o futuro do financiamento climático a partir de 2025.

“Temos que fazer grandes progressos em finanças, o principal facilitador da ação climática. Peço a todos que passemos do estágio zero para opções reais que nos levem a um novo objetivo coletivo quantificado em matéria de financiamento”, destacou Stiell. “Não podemos nos dar ao luxo de chegar a Baku [sede da COP29 em novembro] com muito trabalho ainda a ser feito”.

A negociação sobre financiamento climático está repleta de impasses. Os países (em geral, divididos entre desenvolvidos e em desenvolvimento) seguem divididos sobre a nova meta global de financiamento que substituirá os US$ 100 bilhões anuais.

Ainda não há números formais na mesa, mas os governos desenvolvidos demonstram reticência quanto às cifras citadas por especialistas e negociadores dos países em desenvolvimento, todas na casa dos trilhões de dólares anuais. Por exemplo, o Valor destacou a avaliação do presidente Lula de que os países em desenvolvimento precisarão de algo entre US$ 4 trilhões e US$ 6 trilhões anuais para financiar a ação climática.

Outro impasse está nas fontes desse financiamento. Os países em desenvolvimento defendem a ampliação de fundos públicos dos países desenvolvidos como caminho para aumentar o financiamento climático. Os governos ricos defendem uma abordagem de fontes diversificadas, incluindo nações emergentes (leia-se China), instituições financeiras multilaterais e o capital privado.

A modalidade do financiamento climático também divide os países. As nações mais pobres defendem que esses recursos sejam direcionados como doação ou grant, sem gerar dívida externa que possa complicar ainda mais a sua situação macroeconômica. Outra demanda é que os governos ricos troquem o pagamento da dívida externa por recursos que possam ser utilizados para mitigação e adaptação nos países mais pobres e vulneráveis.

O Guardian destacou um levantamento da organização Debt Justice que apontou que os pagamentos de dívida dos 50 países mais vulneráveis à crise climática duplicaram desde o início da pandemia de COVID-19 e estão no nível mais elevado em três décadas. Esses países estão pagando, em média, 15,5% de suas receitas governamentais a credores externos.

“Os níveis recordes de pagamento de dívida estão esvaziando a capacidade dos países mais vulneráveis para enfrentar a emergência climática. Precisamos de um esquema de alívio de dívida rápido e eficaz para cancelar as dívidas até um nível sustentável”, defendeu Heidi Chow, diretora-executiva da Debt Justice.

O Climate Home repercutiu os destaques do começo da SB60 em Bonn.

 

ClimaInfo, 5 de junho de 2024.

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