Organizações pedem exclusão de offset de carbono em metas climáticas corporativas

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Stuart Rankin/via Flickr

O uso de créditos de carbono nos planos net-zero pode desincentivar as reduções de emissões por empresas, alertou um grupo de mais de 80 organizações.

A novela em torno do uso potencial de créditos de carbono para compensar emissões nos planos corporativos net-zero ganhou mais um capítulo nesta 3ª feira (2/7). Um grupo de mais de 80 organizações ambientais divulgou uma nota conjunta na qual criticam essa possibilidade e pedem o veto a mecanismos de offset na descarbonização de empresas.

“As metas climáticas devem se concentrar principalmente na redução das emissões de gases de efeito estufa dentro dos limites das empresas e dos países, incluindo a eliminação gradual da produção, transporte, venda e uso de combustíveis fósseis”, destacou a carta, assinada por entidades como Anistia Internacional, ClientEarth, New Climate Institute e Oxfam.

De acordo com as organizações, permitir que empresas e países cumpram seus compromissos climáticos com créditos de carbono “desacelerará as reduções globais de emissões, ao mesmo tempo em que falhará em fornecer algo parecido com a escala de fundos necessária no Sul Global”. A carta também alerta para a possibilidade do uso de offset dificultar a implementação de mecanismos de taxação sobre os setores mais intensivos em emissões.

O pano de fundo para essa argumentação é a crise enfrentada pela iniciativa Science Based Targets (SBTi). Considerada o “padrão-ouro” dos planos net-zero corporativos, a iniciativa experimentou uma rebelião de especialistas e funcionários depois de sinalizar mudanças nos critérios para o uso de créditos de carbono para compensar emissões de Escopo 3, que abrangem a cadeia de valor fora do alcance gerencial da empresa.

Na época, uma nota divulgada sem alarde sinalizava a possibilidade das empresas utilizarem créditos de carbono para compensar todas as suas emissões de Escopo 3. Feita sem qualquer discussão interna, a proposta causou irritação entre os funcionários da SBTi, que enxergaram nela uma flexibilização excessiva dos critérios net-zero. A direção da iniciativa voltou atrás, mas a tensão persiste dentro do setor.

“As empresas têm a responsabilidade de reduzir profunda e imediatamente sua própria pegada [de carbono], adotando medidas concretas para lidar com as emissões em suas cadeias de valor, em vez de simplesmente comprar créditos para não lidar com seus próprios problemas de emissões. A dificuldade de alcançar essas reduções massivas de emissões não pode justificar a abertura generalizada das portas para a contabilidade criativa e as distrações climáticas”, ressaltou a carta.

Bloomberg, Business Green, S&P Global e Wall Street Journal abordaram a notícia.

 

 

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ClimaInfo, 03 de julho de 2024.

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