SBTi: inclusão de crédito de carbono em planos net-zero causa revolta de especialistas 

17 de abril de 2024
créditos de carbono net zero
Matthias Heyde / Unsplash

A iniciativa Science Based Targets (SBTi) provocou uma revolta interna com a mudança brusca sobre uso de créditos de carbono para planos net-zero de empresas.

Uma das principais iniciativas internacionais para incentivar a descarbonização de empresas se viu alvo de questionamentos nas últimas semanas depois de sinalizar uma mudança brusca em suas regras. A Science Based Targets Initiative (SBTi), considerada o “padrão-ouro” dos planos net-zero corporativos, enfrentou uma rebelião interna de especialistas e funcionários, irritados com o que eles enxergaram como uma flexibilização de seus critérios.

A novela começou na semana passada, quando a SBTi divulgou, sem fazer qualquer alarde, uma nota na qual sinalizava uma mudança importante em seus critérios para validar planos net-zero de empresas. De acordo com a nota, a iniciativa passaria a aceitar a utilização de créditos de carbono para as empresas compensarem todas as emissões de Escopo 3, que abrangem aquelas decorrentes da cadeia de valor fora do seu alcance gerencial. Até então, o uso de créditos de carbono era permitido apenas às emissões “além da cadeia de valor” (beyond the value chain, BYVC, no original em Inglês).

A mudança foi repentina e feita sem qualquer discussão interna e sem validação por parte dos conselhos e sistemas de compliance da SBTi. A surpresa animou as empresas operadoras de créditos de carbono, que enxergaram nessa flexibilização uma oportunidade única para expandir seus negócios – de acordo com a Bloomberg, a demanda poderia subir para US$ 1,1 trilhão até 2050. Mas ela desagradou tremendamente aos especialistas que atuam dentro da iniciativa.

Os funcionários divulgaram um comunicado no qual expressaram sua “profunda preocupação” com a mudança de posição e com a maneira como a questão foi decidida dentro da SBTi. Segundo eles, o conselho gestor da iniciativa não teria o poder de tomar esse tipo de decisão sem qualquer consulta interna. A irritação foi tamanha que os signatários, que afirmaram representar “a grande maioria” dos funcionários da iniciativa, pediram a renúncia dos conselheiros e do CEO, o brasileiro Luiz Amaral.

A reação acabou forçando um recuo por parte dos gestores da SBTi. Em um adendo ao texto original, a iniciativa afirmou que não houve qualquer mudança nos padrões atuais para análise e validação dos planos net-zero corporativos. A entidade também informou que publicará em julho um documento para discussão com uma minuta de proposta sobre possíveis alterações nas regras para Escopo 3.

Mas o estrago está feito. O New Climate Institute, por exemplo, saudou a reação dos funcionários da SBTi e criticou a possibilidade de flexibilização das regras para Escopo 3. “[As mudanças] não são a solução certa para enfrentar os desafios que as empresas enfrentam, de forma abrangente, na implementação de seus objetivos”, destacou em nota.

Na mesma linha, a Carbon Market Watch classificou a proposta como um retrocesso aos esforços globais para alinhar as empresas às metas net-zero até 2050. “Esta decisão desafia tanto a boa governança como a ciência”, afirmou a diretora executiva da entidade, Sabine Frank. “Ao conceder flexibilidade excessiva às empresas, a SBTi perderá a sua razão de ser – promover uma ação climática corporativa robusta e eficaz”.

O Capital Reset acompanhou o vai-e-vem da novela da SBTi sobre créditos de carbono para compensação de emissões do Escopo 3. Climate Home, Financial Times, Guardian e Reuters também abordaram a notícia.

 

ClimaInfo, 18 de abril de 2024.

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