Encontro em Pequim “diminuiu” as divergências entre China e EUA sobre financiamento climático na COP29; disputa eleitoral pela Casa Branca deixa parceria bilateral sob suspense.
Os principais negociadores climáticos de Estados Unidos e China concluíram na semana passada em Pequim mais uma rodada de conversas bilaterais preparatórias para a COP29. Segundo os representantes norte-americanos, os dois países conseguiram reduzir os pontos de divergência sobre os principais pontos da agenda de Baku, inclusive nos tópicos de financiamento climático.
“Apesar de algum atrito em nosso relacionamento bilateral, podemos encontrar lugares para colaborar para o bem de nossos povos e o bem do nosso clima”, comentou John Podesta, conselheiro sênior da Casa Branca para o clima, que encabeçou as conversas pelo lado norte-americano. O encontro em Pequim foi o primeiro dele com o novo enviado chinês para as negociações climáticas, o diplomata Liu Zhenmin.
Sobre a COP29, chineses e norte-americanos reiteraram seus “esforços colaborativos” em prol do sucesso da Conferência, incluindo a nova meta coletiva quantificada, ponto central da agenda de financiamento climático, e a regulamentação final do Artigo 6 do Acordo de Paris, sobre mercados de carbono.
Os dois governos reafirmaram também sua intenção de realizar uma cúpula sobre metano e outros gases de efeito estufa não-CO2 durante a COP29, bem como seu compromisso de promover esforços para deter e reverter a perda florestal até 2030.
Nos bastidores, a linguagem foi menos floreada. Segundo o Financial Times, os EUA pressionaram os representantes chineses a apresentarem metas climáticas mais ambiciosas para 2035. Por outro lado, a China cobrou a continuidade dos esforços bilaterais, de forma a “manter a consistência com as políticas e fazer esforços conjuntos com a China para enfrentar os desafios globais”. O Valor também abordou essa informação.
A cobrança chinesa não é gratuita. O diálogo bilateral entre os dois maiores emissores de gases de efeito estufa do planeta depende do interesse do próximo presidente dos EUA nessa agenda. No caso da atual vice-presidente Kamala Harris, candidata democrata à sucessão de Joe Biden, essa manutenção é mais fácil; já no caso do ex-presidente Donald Trump, negacionista climático de quatro patas, o panorama é bastante diferente.
Mais do que o futuro do diálogo sino-americano sobre clima, o resultado da eleição presidencial também pode afetar o cálculo estratégico das políticas climáticas da China para os próximos anos. Como destacou o NY Times, uma nova saída dos EUA do Acordo de Paris sob Trump reduziria a pressão por compromissos climáticos mais ambiciosos dos chineses, com efeito cascata sobre a ambição dos demais países.
AFP, Bloomberg, NBC News, Reuters e South China Morning Post, entre outros, também repercutiram as discussões de EUA e China sobre clima.
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ClimaInfo, 10 de setembro de 2024.
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