
Cobrar é fundamental, já que clima ainda não é prioridade nos planos dos candidatos mesmo com seca extrema, incêndios sem controle e enchentes no RS.
No próximo domingo, 6 de outubro, eleitores dos 5.570 municípios brasileiros irão às urnas escolher seus prefeitos e vereadores. Em muitas dessas cidades a população sofre com uma seca histórica que atinge boa parte do país. Muitas estarão sob uma nova onda de calor – a oitava em 2024. Sem falar nas que estarão tomadas pela fumaça dos incêndios florestais, mesmo estando a milhares de quilômetros de distância das chamas. E no Rio Grande do Sul em particular, muitos eleitores votarão vivendo em paisagens destruídas pelos efeitos das tempestades extremas que castigaram o estado em maio.
Diante desses efeitos claros das mudanças climáticas, era de se esperar que candidatos a prefeituras e câmaras de vereadores tivessem incluído em sua agenda eleitoral a adaptação a eventos climáticos extremos e a mitigação de suas causas. Mas, apesar do sofrimento causado por chuvas extremas e inundações, seca, calor excessivo e incêndios, o clima não recebeu a devida atenção da maioria dos postulantes a esses cargos. O que exige atenção na hora de escolher candidatos e de cobrar deles um olhar apurado para o tema.
Algumas iniciativas foram criadas para facilitar a vida do eleitor em sua escolha por candidatos a prefeito e vereador conectados com a agenda climática. Uma delas é a Vote pelo Clima, ferramenta que reúne candidaturas de várias cidades do país comprometida com o tema. Outra é a Bancada do Clima, com proposta similar. Sem falar em ações isoladas, como a de candidatos de duas cidades da região da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, que vem sofrendo com o fogo, que lançaram juntos propostas de ações integradas para preservação e desenvolvimento sustentável.
É preciso muita atenção, porque há muitos candidatos que falam na emergência climática e na necessidade de ações para contê-la, mas ainda não deixam claro como farão isso. Como mostra o Climômetro, criado pela Agência Pública em parceria com a Universidade Anhembi Morumbi e as universidades federais de Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Pernambuco, nas capitais brasileiras os candidatos às prefeituras dizem que vão priorizar a pauta climática, mas seus planos de governo ainda não mostram isso.
Se em muitos casos há muita fala e pouco compromisso, em outros a situação é ainda pior: candidaturas claramente comprometidas com quem financia ou promove crimes ambientais e climáticos. É o que acontece, por exemplo, em cidades com grande influência do agronegócio, onde muitos candidatos receberam recursos de doadores autuados pelo IBAMA. Ou em cidades do Pará onde há mais candidatos ligados ao garimpo neste ano do que em 2020. Sem falar no candidato do PL à prefeitura de Pacajá, também no Pará – um dos municípios campeões de desmatamento no Brasil –, o fazendeiro Dalton Gomes Scherr Junior, que acumula R$ 11,7 milhões em multas do órgão ambiental, principalmente por desmatamento irregular de mata nativa e criação de bois em áreas embargadas.
Sendo assim, todo cuidado é pouco. É no dia a dia das cidades que todos nós vivemos o cotidiano. É nelas que sentimos os efeitos das mudanças climáticas. Que sofremos ainda mais com os termômetros nas alturas pela falta de árvores ou pela expansão desenfreada de construções, ou ficamos ilhados em inundações após fortes chuvas e a falta de um sistema de escoamento eficiente. Que respiramos o ar poluído tanto pela fumaça dos incêndios florestais como pelas emissões de carros, motos, ônibus e caminhões movidos a combustíveis fósseis, que agravam ainda mais a crise climática que nos atinge. É nas cidades que abrimos as torneiras e não vemos uma gota de água por causa da seca agravada pelas mudanças climáticas.
Por isso prefeitos e vereadores têm de ter soluções para esses problemas, escritas, em seus planos de governo, e não apenas na tentativa de convencer eleitores. Têm de encarar o “novo anormal” que vivemos por causa do que vem ocorrendo com o clima, e não achar que se trata de um problema só do presidente da República, dos governadores, ou de senadores e deputados federais e estaduais.
São prefeitos e vereadores que estão na linha de frente e que devem ter planos tanto preventivos como corretivos para os eventos climáticos extremos. Por isso não custa perguntar: já fez sua “cola climática” para votar bem no próximo domingo?
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Por Alexandre Gaspari, jornalista no ClimaInfo.
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ClimaInfo, 1º de outubro de 2024.
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