A FEMA, responsável pela gestão federal de emergências, virou um dos bodes expiatórios da direita trumpista, acusada sem provas de corrupção e desvio de recursos.
E segue a cruzada de Dom Quixote contra os moinhos de vento… quer dizer, de Donald Trump contra tudo e qualquer coisa que não lhe agrade por alguma razão, mesmo a mais incipiente e absurda possível. O alvo da vez do presidente dos EUA é a Agência Federal de Gestão de Emergências (FEMA), instrumento fundamental para a resposta do governo norte-americano a desastres climáticos, como furacões e incêndios florestais.
Durante inspeção em áreas afetadas por desastres na Califórnia e na Carolina do Norte na semana passada, Trump sugeriu que pode “se livrar” da FEMA e deixar a resposta emergencial totalmente nas mãos dos estados. Segundo ele, o dinheiro que hoje é destinado à FEMA seria redirecionado aos governos estaduais, que assumiriam essa tarefa no lugar da agência federal, criticada como “burocrática e lenta”. A Associated Press deu mais detalhes.
A sugestão de Trump se encaixa em uma narrativa levantada por seus partidários durante a campanha presidencial do ano passado. Em setembro, quando a Carolina do Norte foi devastada pelo furacão Helene, Trump acusou a FEMA – sem qualquer prova, como é de costume – de não ajudar as áreas de maioria republicana, dizendo que a agência estaria usando recursos para apoiar imigrantes ilegais. Para os trumpistas, a FEMA virou um exemplo do chamado Deep State que precisaria ser desmantelado.
No entanto, o fim da FEMA resultaria no colapso do sistema de resposta a desastres naturais nos EUA. Como a Bloomberg destacou, a agência está respondendo atualmente a mais de 100 grandes desastres nos EUA, que abrange desde as crises mais recentes, como a dos incêndios em Los Angeles, até a reconstrução e o suporte em outras áreas afetadas por desastres nos últimos anos.
Enquanto isso, a Bloomberg informou que a Casa Branca interrompeu todos os gastos, empréstimos e outras ações do Departamento de Energia dos EUA. Segundo o governo norte-americano, a medida faz parte de uma “revisão abrangente” das políticas federais, o que deve afetar a concessão de financiamentos para programas importantes deixados pela gestão de Joe Biden, como investimentos em energias renováveis.
O setor energético está sob emergência, declarada por Trump em seu primeiro dia no poder. A Bloomberg também abordou como a declaração abre as portas para o uso de poderes abrangentes, muitos do período da Guerra Fria, para acelerar a construção de oleodutos, expandir redes elétricas e salvas usinas de carvão em dificuldades. A emergência é curiosa, já que os EUA não vivem uma crise energética, pelo contrário – o país nunca produziu tanto combustíveis fósseis como agora.
Mas o esforço de Trump para apoiar seus amiguinhos do Big Oil pode não ser suficiente para reverter o movimento global rumo às fontes descarbonizadas de energia. Analistas do Citigroup citados pela Bloomberg afirmaram que, mesmo com o desmantelamento das políticas climáticas de Biden por Trump, persiste um “senso de otimismo” de que a transição energética prevalecerá, inclusive nos EUA.
Em tempo: Ainda sobre Trump, a Agência Brasil abordou o contexto e os impactos de mais uma saída dos EUA do Acordo de Paris. No cenário doméstico, como da vez anterior, espera-se que governos subnacionais e atores privados norte-americanos mantenham seu engajamento com a ação climática, apesar do negacionismo da Casa Branca. Já no externo, a frustração recente de vários países com o multilateralismo climático será um desafio extra na resposta global à saída dos EUA. “Em 2017, você ainda tinha um otimismo por conta da experiência de Paris, e hoje é muito mais frustração. Então, esse é um risco que a gente não tinha lá atrás”, comentou Bruno Toledo Hisamoto, especialista em política climática internacional do Instituto ClimaInfo.
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ClimaInfo, 28 de janeiro de 2025.
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