O 2º maior frigorífico do Brasil usou recursos do Fiagro e de Certificados de Recebíveis do Agronegócio para pagar fornecedores diretos que compram de desmatadores.
Uma reportagem investigativa publicada no site O Joio e o Trigo revelou como a Minerva, a 2ª maior empresa do segmento de proteína animal do país, está utilizando recursos captados no mercado financeiro para pagar fornecedores, entre eles pecuaristas com suspeitas de “lavagem de gado”, desmatamento ilegal e invasão a Terras Indígenas.
De acordo com a matéria, desde dezembro de 2019 a Minerva recebeu ao menos R$ 10,8 bilhões por meio de títulos de dívida do mercado de capitais, conhecidos como Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), que foram incorporados a vários Fundos de Investimentos das Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro). Pelo menos 11 desses Fiagros incluíram, entre seus ativos, três CRAs da Minerva, oferecidos a investidores na Bolsa de Valores B3.
Até aí, nada errado. O problema acontece quando se analisa a utilização dos recursos captados no mercado financeiro pela Minerva. Segundo a reportagem, o dinheiro de um dos CRA, o CORP Minerva VI, foi usado para reembolsar a empresa pelos gastos com pagamentos de fornecedores de gado, muitos deles com histórico de desmatamento ilegal e envolvimento em esquemas de lavagem de gado (transferência de gado criado em fazendas ilegais para propriedades regularizadas).
Entre os fornecedores da Minerva vinculados aos CRA, estão pecuaristas com vários embargos do IBAMA por desmatamento não autorizado, inclusive proprietários que estão envolvidos na tentativa de barrar a demarcação da Terra Indígena Tanaru (RO), que serviu de abrigo para o “Índio do Buraco”, o último sobrevivente do povo Tanaru, falecido em 2022. Enquanto indigenistas e ambientalistas defendem a manutenção da proteção do território, os fazendeiros locais querem reduzi-lo e ocupar a maior parte dele.
Um nome chama a atenção na relação de fornecedores da Minerva: o do senador Jaime Bagatolli (PL-RO). O parlamentar é autor do Projeto de Lei 3.334/2023, que propõe reduzir de 80% para 50% as áreas de Reserva Legal em propriedades privadas na Amazônia, o que beneficiaria pecuaristas como ele próprio.
Questionado, Bagatolli assumiu que não discrimina desmatadores entre seus fornecedores de gado. “Se você pensar por isso aí, manda fechar os frigoríficos. Cinquenta por cento das terras de Rondônia e Mato Grosso têm algum problema ou de regularização fundiária, ou que não deram licença para desmatamento, algum problema têm”, afirmou o senador.
O parlamentar também reconheceu que a “lavagem de gado” é prática comum entre os pecuaristas da região. “Ou você acha que a Minerva não compra deste produtor [que desmata]? Você sabe como os produtores estão vendendo lá? Ele vende para um outro produtor para este vender para a Minerva”, explicou.
ClimaInfo, 5 de fevereiro de 2025.
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