G9 indígena lança manifesto contra a exploração de combustíveis fósseis na Amazônia

Alerta ocorre após Lula defender a exploração do bloco FZA-M-59 pela Petrobras na foz do Amazonas, empreendimento com riscos socioambientais para Povos Indígenas da região.
19 de fevereiro de 2025
(Rafael Melgueiro via Vocativo.com)

“O discurso sobre usar os recursos do petróleo da Amazônia para financiar a transição energética não é apenas falso, é escandalosamente cínico” – este é um trecho do documento elaborado por representantes de organizações indígenas dos nove países amazônicos – que formam o G9 da Amazônia Indígena. Eles reivindicam o fim da exploração de petróleo na região, uma ação que, diz o G9, ignora a gravidade da crise climática e a devastação causada pela exploração de combustíveis fósseis, os maiores responsáveis pela crise climática global. “Não permitiremos que nos enganem com falácias e estratégias que apenas prolongam a destruição. O fim da exploração de petróleo na Amazônia e no mundo não é uma opção, é uma urgência. Não restará nenhuma floresta em pé em um planeta em chamas. A transição energética precisa ser feita de maneira justa e imediata, respeitando e protegendo as populações que já estão pagando o preço mais alto dessa destruição criminosa”, diz outro trecho do documento.

O manifesto é resultado do Encontro Internacional dos Povos Indígenas da Bacia Amazônica, que ocorreu em Manaus nos mesmos dias em que o presidente Lula esteve em Macapá e Belém e defendeu a exploração de combustíveis fósseis no bloco FZA-M-59, na foz do Amazonas, lembra Lauro Jardim n’O Globo.

Em entrevistas a rádios locais, Lula acusou o IBAMA de “lenga-lenga” por ainda não ter concedido a licença para a Petrobras perfurar um poço na área. Disse também que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, era “inteligente” e, por isso, não iria impedir a exploração de petróleo na região. E reforçou a falácia de que o petróleo amazônico é necessário para financiar a transição energética, o que explica a crítica direta dos indígenas. Afinal, além dos enormes subsídios globais à indústria de petróleo e gás fóssil em detrimento das fontes renováveis, as petroleiras respondem por apenas 1% dos investimentos em energia limpa no mundo.

O empreendimento da Petrobras no litoral do Amapá, uma área de altíssima sensibilidade ambiental, mostra o g1, também traz riscos de impactos socioambientais para os Povos Indígenas da região, como a degradação florestal, a destruição de manguezais fundamentais para seu modo de vida, a contaminação de rios, grilagem, invasão de terras e insegurança alimentar. Além disso, o projeto do FZA-M-59 desrespeita o Direito à Consulta Livre, Prévia e Informada aos Povos Indígenas, previsto na convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário.

Além das mudanças climáticas, indígenas amazônicos já sofrem na pele os efeitos devastadores da exploração de combustíveis fósseis na região. É o caso do Povo Waorani na Amazônia equatoriana. Presente ao encontro, o presidente da Nacionalidad Waorani del Ecuador (NAWE), Juan Bay, relatou que seu Povo teve contato forçado a partir da exploração de petróleo no Parque Nacional Yasuní. Em 2023, a população do Equador votou pelo fim da exploração de petróleo na região, mas a extração continua, destaca o Vocativo, quando deveria ter sido interrompida até outubro do ano passado.

O manifesto do G9 da Amazônia Indígena também listou outras demandas da coalizão. Elas incluem a copresidência da COP30; a inclusão de demarcação e proteção dos Territórios Indígenas como política climática nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) dos países; e um Balanço Ético Global sobre o Clima, que consiste na revisão das metas propostas pelos governos para limitar as emissões de gases de efeito estufa (GEE).

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