
Os imensos riscos ambientais, climáticos e reputacionais de explorar combustíveis fósseis na foz do Amazonas não são suficientes para demover a Petrobras e o governo brasileiro da ideia. Mas talvez eles devessem dar atenção a um relatório da UK Sustainable Investment and Finance Association (UKSIF) e Transition Risk Exeter (TREX) divulgado na 5ª feira (6/3). O documento mostra que a “riqueza” propagandeada pela petroleira e pelo Palácio do Planalto pode virar um prejuízo para acionistas e para os cofres públicos.
O estudo aponta que a transição para uma economia de baixo carbono pode deixar ativos de US$ 2,3 trilhões encalhados até 2040. Reservas de petróleo, gás e carvão – assim como a infraestrutura e os investimentos que sustentam os combustíveis fósseis – podem “perder viabilidade econômica” antes do fim de suas vidas operacionais esperadas, destaca a Bloomberg. O relatório cita políticas climáticas e mudanças tecnológicas e nas condições de mercado como causas prováveis da queda no valor, criando “stranded assets” na indústria dos combustíveis fósseis.
“Muitas empresas de petróleo e gás estão apostando em uma demanda que não se materializará em um mundo descarbonizado, e o público corre o risco de pagar a conta”, disse James Alexander , presidente-executivo da UKSIF. “A maneira mais segura de compensar o risco de perdas representadas por ativos encalhados é investir em indústrias que prosperarão à medida que os combustíveis fósseis declinarem”, completou. Entendeu, Petrobras?
Estados Unidos, Rússia, China e Reino Unido são os quatro países mais expostos ao risco de ativos encalhados, ocupando uma categoria que UKSIF e TREX chamam de “proprietários finais”. O Brasil ocupa a 7ª posição nesse ranking, atrás também de Canadá e Arábia Saudita, mas à frente de outros grandes produtores mundiais de combustíveis fósseis, como Irã, Noruega e Emirados Árabes Unidos.O relatório ainda destaca que o prejuízo será ainda maior considerando os efeitos da crise climática, informam Business Green, Mint, Oilprice.com e Net Zero Investor. “Em comparação com o custo da inação climática, essa ainda é uma perda muito menor a ser suportada. Em um cenário de aquecimento entre 2,5°C e 2,9°C, desastres naturais intensificados pelas mudanças climáticas podem levar a perdas econômicas de US$ 12,5 trilhões até 2050”, frisa o estudo.