
O Brasil tem uma das gerações de eletricidade mais renováveis do planeta. Com Donald Trump na presidência dos Estados Unidos e seu foco nos combustíveis fósseis, o país, um dos líderes do segmento no mundo, explica o Valor, tem uma excelente chance de atrair investimentos antes previstos para os EUA, relata também o Valor. No entanto, o país precisa corrigir erros e distorções que afetam populações atingidas por projetos implantados sem respeito socioambiental e encarecem a conta de luz, principalmente dos mais pobres.
As duas “locomotivas” da expansão das renováveis no país nos últimos anos vivem momentos opostos. A geração solar deve crescer 22% ao ano, em média, até 2027, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), destaca o Valor. Já as eólicas viram seu ritmo de instalação de novas usinas cair 31% no ano passado, informa o Valor, e esperam uma recuperação total apenas em 2027.
Parte do problema com as eólicas é a infraestrutura de transmissão de eletricidade do país, lembra o Valor. Em especial, da rede que conecta o Nordeste – que tem 93% da capacidade de geração eólica e 58% da solar – ao Sul-Sudeste. O gargalo fez com que o Operador Nacional do Sistema (ONS) limitasse a geração renovável das usinas nordestinas (curtailment). E o governo terá de decidir quem paga pela energia que não foi produzida por falta de linhas, explica o Valor.
A expansão das renováveis foi estimulada por subsídios que continuam ativos mesmo após o barateamento dessas fontes, e isso pesa no bolso dos consumidores. Por isso a necessidade de um novo marco regulatório, aderente à realidade do mercado e à atual matriz elétrica, é ponto comum na maior parte do setor elétrico, destaca o Valor. Com 21 anos, o regramento atual, estabelecido pela Lei 10.848, é anterior ao avanço das fontes solar e eólica, à emergência climática e a mudanças como a ampliação do mercado livre para todos os consumidores empresariais conectados à rede de alta tensão.
Mas não são só os subsídios para eólicas e solares que afetam a população. No Nordeste, há muita gente sofrendo com projetos que causaram desmatamento, ataque à biodiversidade, ameaças à integridade de crianças e mulheres, assédio a agricultores familiares e êxodo rural, lembram Cecilia Oliveira e Cristina Amorim, coordenadoras da iniciativa Nordeste Potência (NEP), na Folha.
“O Brasil é um dos mercados mais promissores do mundo para captação de investimentos verdes. Mas a boa perspectiva não pode fomentar mais conflitos e violações de Direitos Humanos. Movimentos sociais e Academia mapearam os problemas no Nordeste e construíram mais de cem recomendações. O governo federal produziu seu próprio diagnóstico, e o Ministério Público Federal e a Defensoria Pública da União têm dialogado com a sociedade. O setor eólico reconheceu problemas, e o de geração solar estuda passos semelhantes. Falta a máquina pública rodar mais rápido: normas técnicas e legais precisam ser atualizadas, e o planejamento energético deve compatibilizar os usos múltiplos da terra e do mar para dirimir conflitos”, destacam.
Em tempo: A instalação de fontes renováveis de energia no mundo em 2024 teve um aumento recorde, de 15%, sobre o ano anterior, segundo a Agência Internacional de Energias Renováveis (IRENA). Foram adicionados 585 gigawatts (GW), sendo 452 GW solares, destaca o Canal Solar. As renováveis responderam por 46% da nova capacidade elétrica instalada no ano passado, informam Reuters, AP e Valor, e atingiram 4.448 GW de capacidade instalada no fim do ano passado. Apesar do progresso, a expansão está muito longe dos 11,2 terawatts necessários para cumprir o Acordo de Paris e a meta global de triplicar a capacidade instalada de energia renovável até 2030, o que exige uma taxa de crescimento anual de 16,6%.