Sucesso da COP30 fortalecerá o multilateralismo, diz CEO

Ana Toni alertou para o perigo de menosprezar a crise climática por conta de conflitos geopolíticos: “o carbono não entende fronteiras”.
3 de abril de 2025
Ana Toni
Edilson Rodrigues / Agência Senado

Em um mundo sob tensões geopolíticas cada vez mais agudas, a COP30 no Brasil poderá se tornar um “símbolo” positivo do multilateralismo e da cooperação internacional contra a crise climática. A avaliação é da diretora-executiva da Conferência do Clima em Belém (PA), Ana Toni.

Em evento realizado nesta 5ª feira (3/4) no Rio de Janeiro, ela destacou que, mesmo com o fortalecimento do negacionismo climático ao redor do mundo, somente os EUA de Donald Trump saíram do Acordo de Paris. “Ainda temos 197 países comprometidos [com a ação climática global]”, disse, citada por O Globo e Valor.

“A gente sabe que para combater a mudança do clima não tem outra saída a não ser de maneira internacional, porque as moléculas de carbono não entendem nossas fronteiras. Se eu poluo, os chineses e os americanos sentem da mesma maneira, e vice-versa. Então precisamos acelerar as ações climáticas de todos os países”, defendeu Toni. 

A CEO da COP30 também lembrou os cortes orçamentários recentes em vários países desenvolvidos, que optaram por reduzir seus gastos com ajuda internacional em favor da preparação militar de suas defesas. Essas decisões, diz, são um erro no longo prazo, já que a intensificação da crise climática garantirá um mundo mais conflituoso nas próximas décadas.

“Guerras são intrinsecamente antiecológicas. Destroem, não constroem. E tiram a atenção do que queremos construir em relação ao desenvolvimento sustentável”, afirmou. “A mudança do clima é o maior combate que todos temos de fazer. É a segurança da Humanidade e deveria estar sendo colocada como prioridade.”

Sobre a COP30, Ana Toni ressaltou a visão do governo brasileiro de transformar o encontro em Belém (PA) na “COP da implementação”, com foco na concretização dos compromissos diplomáticos assumidos pelos países desde a assinatura do Acordo de Paris, há quase dez anos. Outra questão é o compromisso firmado na COP28 de Dubai (Emirados Árabes) em 2023, que prevê a redução do uso de combustíveis fósseis.

“Esse é o grande tema. A decisão sobre transitar para o fim do combustível fóssil de maneira ordenada e justa já foi acordada. Não é mais debate do ‘se’, mas do ‘como’. O mais importante é termos um plano para começar”, disse.

Na mesma linha, a chefe da assessoria especial do Ministério do Meio Ambiente para a COP30, Alice Amorim, também destacou a necessidade de iniciarmos a transição para um mundo sem energia fóssil. “O ‘transitioning away’ é um processo que vai ser longo, precisa ser planejado e precisa ser equitativo, como definido em Dubai. Mas ele precisa começar”, disse, citada pela Folha.

  • Em tempo 1: O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), defendeu que o Brasil e o mundo não percam o foco sobre o que realmente interessa nas discussões para a COP30. “Não vamos alimentar polêmicas e perder tempo com bobagem. Não vamos nessa armadilha de deixar pautarem o mundo com coisas que desviam a atenção”, argumentou ao Valor.

    Curiosamente, o prefeito de Belém, Igor Normando (MDB), parece não seguir esse raciocínio. Ao mesmo tempo em que agradeceu pelos investimentos e atenção à capital paraense na preparação da COP, ele afirmou que a comunidade internacional precisa fazer mais e falar menos, especialmente quando o assunto é a Amazônia.

    “Não adianta discutir meio ambiente num hotel cinco estrelas”, disse o prefeito, em uma indireta óbvia às críticas por conta da falta de leitos hoteleiros na cidade.

  • Em tempo 2: Em artigo publicado no Valor, os pesquisadores Paulo Artaxo (USP), Thelma Krug (IPCC), Roberto Kishinami (iCS), Bráulio Borges (FGV), Jean Ometto (INPE) e Eduardo Assad (FGV) incorporaram a ideia do "mutirão" defendida pelo presidente da COP, André Corrêa do Lago, para reforçar os mecanismos já existentes no Acordo de Paris para a precificação do carbono e estimular os grandes emissores a apresentar planos de mitigação que considerem todos os setores de suas economias.

    “Esta ‘virada’ só acontecerá caso haja profundo engajamento dos governos-membros, do setor privado e de todas as camadas que compõem as sociedades. Seria, dessa forma, um verdadeiro mutirão para ‘arrumar a casa’, reconhecendo os ajustes necessários e fortalecendo os pilares para assegurar que nosso planeta tenha uma trajetória compatível com a sustentabilidade da vida humana e das futuras gerações”, destacaram os autores.

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