O cenário já estava difícil. O desmonte das políticas climáticas nos EUA pelo negacionista Donald Trump criou uma série de impasses e problemas para o setor de energias renováveis, agora sem os benefícios criados na gestão do ex-presidente Joe Biden. Para completar, a “guerra tarifária” iniciada na semana passada pela Casa Branca contra o resto do mundo coloca mais dificuldades no caminho do setor.
Analistas de mercado ouvidos pela Bloomberg avaliaram que o cenário de guerra comercial que se desenha pode ser mais um obstáculo para a transição energética global. Um dos impactos mais significativos está na cadeia de fornecimento de equipamentos de energias renováveis, como painéis fotovoltaicos e aerogeradores: a maior parte da produção global desses itens está concentrada no Sudeste e Leste Asiático, uma das regiões mais afetadas pelas novas tarifas de importação nos EUA.
O Camboja, por exemplo, vendeu US$ 820 milhões em bens de energia renovável para os EUA no ano passado, o que representou quase 10% de todas as exportações do país asiático. No entanto, o governo Trump impôs uma taxa extra de 49% sobre as importações do Camboja. Curiosamente, a União Europeia, que vendeu muito mais equipamentos para o mercado norte-americano em 2024 (US$ 25 bilhões), foi sobretaxada em apenas 10%.
O impacto vai além do comércio de equipamentos prontos. A taxação também bagunça as vendas de componentes e peças, o que afeta especialmente as empresas norte-americanas que fabricam esses equipamentos. O custo extra decorrente das taxas encarece o produto final, o que implica em preços mais salgados para os consumidores, como destacou o NY Times.
Um setor que deve ser atingido em cheio é o de baterias elétricas. O fosfato de ferro-lítio (LFP) é o componente mais utilizado na fabricação das baterias, e a maior parte é comprada da China. Estimativas da BNEF indicam que a sobretaxa às importações chinesas devem encarecer as baterias em 17,5% até 2026.
Ironicamente, a taxação também é uma preocupação para as empresas de combustíveis fósseis, aliadas de primeira ordem de Trump. A perspectiva de uma guerra comercial entre EUA e China derrubou os preços internacionais do barril de petróleo, além de afetar o valor das ações do Big Oil nas bolsas de valores.
Publicamente, executivos do setor tentam manter a fachada de normalidade, mas, segundo o NY Times, a crítica à Casa Branca tem sido mais pesada nos bastidores. Isso porque uma queda do preço do barril abaixo de US$ 60 pode forçar as empresas a desacelerar novas perfurações e rever planos de expansão da produção, o que afetaria estados norte-americanos como o Texas.
