
As negociações da Organização Marítima Internacional (IMO) em torno da taxação das emissões de gases de efeito estufa do transporte marítimo comercial “ganharam emoção” na reta final. Enquanto os países seguem discutindo o modelo dessa cobrança, os Estados Unidos resolveram brincar de criança mimada: em um comunicado supostamente encaminhado à IMO, o governo norte-americano se posicionou totalmente contrário à proposta e ameaçou retaliar os países que aderirem à taxação.
O texto não foi confirmado pelo Departamento de Estado norte-americano, mas Bloomberg e Guardian tiveram acesso ao documento. Mesmo sem a confirmação de Washington, negociadores de outros países consideraram a declaração genuína, em linha com os argumentos apresentados por representantes dos EUA nas discussões desde a volta de Donald Trump ao poder, em janeiro passado.
Segundo o documento, os EUA se opõem à possibilidade de taxar as emissões dos navios mercantes do país e ameaçou os países que o fizerem com “medidas recíprocas”. A taxação seria “flagrantemente injusta” e “inconsistente” com o Direito Marítimo Internacional e prejudicaria as tecnologias atuais que abastecem as frotas de transporte marítimo em prol de “combustíveis hipotéticos, caros e não comprovados”.
A despeito do tom bastante duro do texto, ao menos em termos práticos, a declaração norte-americana não teve impacto no andamento das negociações da IMO nesta 4ª feira (9/4) em Londres. Segundo negociadores de outros países, os representantes dos EUA seguem participando das conversas, ainda que de forma discreta. Para os observadores das negociações, a declaração foi um ato desesperado e, ao menos por ora, mal-sucedido do governo Trump para barrar a discussão.
“As negociações da IMO foram retomadas normalmente nesta manhã, com os países focados em alcançar um resultado ambicioso”, comentou Emma Fenton, da organização Opportunity Green, que também refutou o argumento dos EUA de que a taxação causaria desequilíbrios comerciais. “Na verdade, um mecanismo de precificação forte poderia criar estabilidade e previsibilidade em mercados voláteis”.
CNBC, Euronews, Financial Times, POLITICO, Reuters e Wall Street Journal também repercutiram a sinalização dos EUA e a situação das negociações da IMO.