
Em 2023, o Equador fez história ao votar massivamente em um referendo contra a exploração petrolífera no bloco 43-ITT, localizado no Parque Nacional Yasuní, uma das áreas de maior biodiversidade do mundo. Com quase 60% dos votos, a população optou por priorizar a proteção ambiental e os Direitos dos Povos Indígenas, rejeitando os argumentos econômicos em favor do petróleo.
No entanto, a reeleição do presidente Daniel Noboa, ocorrida neste domingo (13/04) em um contexto de crise econômica e pressão por novos recursos energéticos, reacende o debate sobre o futuro da moratória e o desafio de conciliar a vontade popular expressa no plebiscito com as demandas por crescimento e segurança energética em um país onde o petróleo ainda responde por parte crucial da receita nacional.
A decisão equatoriana, que havia marcado uma vitória para o movimento climático global, agora pode ser revisitada – com fortes indícios de reforço à indústria fóssil no país. Como sinaliza a Mongabay, apesar de estar no espectro da extrema-direita e ser alinhado ao presidente norte-americano Donald Trump, Noboa não é exatamente um negacionista climático e defende em seus discursos a importância da transição para uma matriz energética mais limpa.
Porém, em termos práticos, o governo equatoriano tem mantido uma agenda econômica profundamente sintonizada com os interesses do setor fóssil. Enquanto promete reduzir emissões e proteger ecossistemas, seu plano de injetar US$ 42 bilhões na indústria petrolífera até 2029, como noticiado pela Reuters, demonstra que as prioridades de seu governo são outras.
Essa contradição torna-se ainda mais evidente no caso Yasuní: embora um referendo popular tenha barrado a exploração na reserva, Noboa tem flertado com a anulação do resultado, privilegiando o lucro imediato sobre a vontade democrática e a proteção ambiental, como indica reportagem do InfoAmazonia. Comunidades indígenas e ambientalistas enfrentam crescente repressão, com criminalização de protestos e impunidade para crimes corporativos.
A crise energética, agravada pela dependência de hidrelétricas em colapso, poderia impulsionar uma transição verde, mas a resposta de Noboa resvala repetidamente nos combustíveis fósseis. Como mostra análise publicada pelo Nexo, apesar de contar com 77 usinas hidrelétricas classificadas como sustentáveis – dado divulgado em relatório exigido pelas Nações Unidas -, o governo de Daniel Noboa adotou mais uma vez medidas que priorizam os combustíveis fósseis, como a isenção temporária de tarifas para geradores a gasolina e diesel.
Essa decisão, embora aliviasse a escassez energética no curto prazo, reforça a dependência do país em fontes poluentes. Especialistas alertam que a postura do governo coloca a sustentabilidade em segundo plano, fortalecendo estruturalmente a indústria de combustíveis fósseis no Equador.
Os impactos dessa política já são mensuráveis: pesquisas preliminares indicam que a queima de combustíveis durante a crise elevou em 22% os níveis de dióxido de nitrogênio (NO₂) em Quito, ultrapassando os limites da OMS, enquanto o material particulado fino (MP2.5), associado a câncer e doenças cardiovasculares, subiu 5,48%. Esses dados expõem o custo oculto das medidas emergenciais de Noboa, que, ao favorecer soluções baseadas em petróleo e diesel.
Folha, Estadão, O Globo, BBC Brasil e g1, entre outros, noticiaram a acirrada vitória de Daniel Noboa nas eleições presidenciais equatorianas.