Petrobras, esta é a segurança para a foz do Amazonas?

Fatos e dados sobre acidentes em plataformas e instalações de petróleo mostram que petroleira não consegue garantir uma operação segura na região.
24 de abril de 2025
  • Alexandre Gaspari, Jornalista no ClimaInfo.

Uma plataforma da Petrobras é interditada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) por oferecer sérios riscos aos petroleiros que nela trabalham e ao meio ambiente – a segunda interdição em cerca de um ano. Dias depois, outra unidade da petroleira que não produzia petróleo desde 2020, mas recebia gás fóssil de outras plataformas próximas, sofre uma explosão. Um trabalhador cai no mar. No final, foram 32 feridos, um deles em estado grave. 

Os episódios ocorreram nos últimos dias nas plataformas P-53, interditada, e PCH-1, que sofreu a explosão. Ambas operam na Bacia de Campos, onde há produção de combustíveis fósseis há mais de 50 anos e é totalmente conhecida pela Petrobras. Além disso, uma região de correntes marítimas muito menos intensas do que na parte do Atlântico que banha o litoral do Amapá e do Pará, onde o rio Amazonas entrega suas águas ao oceano.

Segundo o Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (SINDIPETRO-NF), estas não são as únicas unidades da petroleira com sérios problemas de segurança operacional que ameaçam a vida de trabalhadores e podem causar graves estragos ambientais em Campos. Situação que, conforme denúncias recebidas pelo sindicato, repete-se em outras bacias onde a companhia opera.

São evidências incontestáveis de que a Petrobras não consegue garantir a segurança para seus trabalhadores e para o meio ambiente em suas atividades de exploração em alto mar. Apesar disso, a empresa jura de pés juntos que perfurar um poço de combustíveis fósseis no bloco FZA-M-59, na foz do Amazonas, é totalmente seguro e não oferece riscos ao meio ambiente e às pessoas, sejam trabalhadores, sejam comunidades de Oiapoque que dependem de recursos marinhos para sua sobrevivência. 

Não precisa ser um Sherlock Holmes para detectar que o discurso não corresponde à realidade. A Petrobras é simplesmente a empresa líder em infrações ambientais no IBAMA entre 2000 e 2025. E certamente deve liderar as ocorrências no recorde de acidentes em instalações de exploração e produção (E&P) de combustíveis fósseis que a ANP registrou em 2024.

Em sua defesa, a Petrobras alega que nunca registrou acidentes em poços exploratórios, perfurados para para saber se há ou não combustíveis fósseis em uma localidade. Mas o histórico da companhia em outras fases da cadeia produtiva dos combustíveis fósseis mancha de petróleo a boa reputação que ela tenta construir. Ainda mais se considerarmos que a região de águas profundas da foz do Amazonas onde a petroleira quer perfurar é desconhecida, diferente da Bacia de Campos. A própria Petrobras tentou perfurar um poço perto do atual bloco 59 em 2011 mas não conseguiu, por causa das fortes correntes da área. E ainda despejou no mar fluidos de perfuração, produto químico usado nessas operações.

Há 25 anos um duto da Petrobras rompeu e despejou milhões de litros de óleo na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro. Imagens impressionantes de aves cobertas de petróleo e toneladas de peixes e crustáceos mortos rodaram o país e o mundo, mesmo em tempos onde não havia redes sociais. Naquele mesmo ano outro duto rompeu no Paraná, com outros milhões de litros de combustíveis fósseis indo parar no rio Iguaçu.

Contudo, os recentes incidentes com plataformas da Petrobras comprovam que não é preciso voltar tanto no tempo para mostrar que “garantia de segurança” é tudo o que a petroleira não pode oferecer em uma região tão desconhecida e de altíssima sensibilidade ambiental como é a foz do Amazonas. A mesma P-53 interditada semana passada, por exemplo, derramou barris de petróleo no mar em 2019. A empresa, porém, não comunicou o vazamento ao mercado e informou ao IBAMA um volume bem menor do que o derramado. O petróleo atingiu praias de Arraial do Cabo, famoso balneário da Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, e não só poluiu mar e areia como prejudicou centenas de ambulantes que trabalhavam nessas praias.

A verdade é que não há qualquer operação 100% segura quando se trata de produtos inflamáveis  e com alto poder de destruição ambiental como são os combustíveis fósseis. Sem falar no estrago climático que a queima desses mesmos combustíveis provoca. Se a atividade em si já não é tão garantida, nem a Petrobras, nem as condições oceanográficas da foz do Amazonas alteram essa condição. Pelo contrário: tornam ainda maiores os riscos.

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