
Um novo estudo expõe o papel decisivo dos mais ricos no agravamento de eventos climáticos extremos, afirmando que eles seriam responsáveis por aproximadamente dois terços do aquecimento global. Publicada pela Nature Climate Change, a pesquisa indica que cerca de 65% do aumento observado de 0,61oC na temperatura média global entre 1990 e 2020 pode ser atribuído às emissões dos 10% mais ricos do mundo, aqueles com renda anual superior a 42.980 euros por ano (cerca de R$ 280 mil).
A desproporção aumenta ainda mais quando se analisa o impacto do 1% mais rico, aqueles com rendimentos anuais acima de 147,2 mil euros (mais de R$ 955 mil). Esse grupo foi responsável por 20% do aquecimento global nos últimos 30 anos. Já os ultra-abastados, que ganham mais de 537 mil euros por ano (R$ 3,424 milhões) e somam cerca de 800 mil pessoas, foram responsáveis por 8% do aumento da temperatura global.
Os resultados destacam como o consumo e os investimentos das elites amplificam desastres que afetam principalmente regiões vulneráveis, como Amazônia, Sudeste Asiático e sul da África – justamente as que menos contribuíram para o problema.
De acordo com a autora principal, Sarah Schöngart, da ETH Zurich, a crise climática não é um fenômeno abstrato, mas está diretamente ligada aos estilos de vida e às aplicações financeiras dos mais ricos. Foram cruzados dados econômicos com simulações climáticas revelando que apenas os 10% mais abastados dos EUA e da China foram responsáveis por dobrar ou triplicar ondas de calor em áreas já fragilizadas.
“Se todos emitissem como os 50% mais pobres, o aquecimento global teria sido mínimo desde 1990”, afirma Carl-Friedrich Schleussner, coautor do estudo. Os dados também alertam para as emissões ocultas em investimentos financeiros, que superam o consumo individual.
Os pesquisadores defendem que regular os fluxos de capital das grandes fortunas pode ser mais eficaz do que medidas genéricas. “Não é teoria, são impactos reais hoje”, reforça Schleussner. “Ignorar o peso dos super-ricos na crise climática é desperdiçar a chance de evitar catástrofes piores”, completa.
Como solução, os autores propõem políticas direcionadas aos mais ricos, como taxação progressiva e regulação de investimentos poluentes. Além de reduzir emissões, essas medidas poderiam financiar adaptação em países pobres e incrementar a Justiça Climática. Nesta perspectiva, o combate às desigualdades para além da questão social, é indicado também como chave para frear o colapso ambiental.
Guardian, Independent, Carbon Brief e Phys, entre outros, divulgaram as informações do estudo da Nature Climate Change.