Alvo de disputa geopolítica, Canal do Panamá sofre com crise hídrica

Para conter o impacto das secas no fluxo comercial, a construção de uma barragem poderá inundar florestas e deslocar mais de 12 mil pessoas.
22 de maio de 2025
canal do panamá crise hídrica
PxHere

O presidente norte-americano Donald Trump, com suas rocambolescas intenções expansionistas, afirmou no início de seu mandato que pretendia retomar o controle do Canal do Panamá. Para ele, a presença de empresas chinesas na gestão da via marítima seria uma ameaça aos interesses norte-americanos. Essa preocupação, no entanto, ignora uma ameaça muito mais real e perigosa – a da escassez hídrica.

Em 2023, secas históricas forçaram a redução de 40% no tráfego de navios, gerando prejuízos bilionários. Para driblar esse problema, o governo panamenho pretende seguir o business as usual: construir um megarreservatório de água para garantir o fluxo de navios, sob o custo de deslocar milhares de pessoas, especialmente os mais pobres e vulneráveis. 

O reservatório inundará terras agrícolas e florestas, destruindo o sustento de famílias que vivem no local há gerações.

Orçada em US$ 1,9 bilhão, a barragem pretende garantir o abastecimento de água para o Canal, com o custo da terra e dos modos de vida de  12 mil pessoas. Enquanto a Autoridade do Canal (ACP) defende o projeto como vital para o comércio global, moradores denunciam falta de consulta e violação de direitos.

Frutos da resistência, placas com frases como “Rios sem barragens, Povos vivos” pontilham as estradas da região. Moradores relatam que a ACP realiza censos sem consentimento, enquanto promete indenizações incertas. Já os ambientalistas alertam para os danos irreversíveis do projeto já que o rio Indio, que seria contido pela barragem, integra o Corredor Biológico Mesoamericano, abrigando espécies ameaçadas como crocodilos e macacos.

Especialistas questionam ainda a eficácia da obra, afirmando que trata-se apenas de uma solução paliativa. A ACP, no entanto, insiste no reservatório, ignorando tratados internacionais como o Acordo de Escazú, que exige participação popular em decisões ambientais.

O conflito revela, ainda,  uma disputa de narrativas. Enquanto o governo fala em “progresso”, comunidades rurais enfrentam o fantasma do despejo – como ocorreu em 1913, quando a construção do Lago Gatún expulsou milhares sem compensação. A obra está prevista para começar em 2027. 

Associated Press, France 24, Al Jazeera, The Christian Science Monitor e Open Democracy repercutiram os efeitos da seca – e a resistência local – no Panamá.

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