
Países ricos estão atrasando doações ao Fundo de Resposta a Perdas e Danos, (FRLD, na sigla em Inglês), ameaçando a meta de distribuição de US$250 milhões em 2025 para nações vulneráveis a desastres climáticos. Representantes da sociedade civil organizada e de países insulares ameaçados pelas mudanças climáticas criticaram a omissão dos governos das nações desenvolvidas por não assumirem seus compromissos com o fundo.
“A conta do financiamento climático está vencida”, afirmou Harjeet Singh, diretor-fundador da Satat Sampada Climate Foundation, em uma coletiva de imprensa realizada durante o encontro do Conselho do FRLD em Cebu, nas Filipinas. O mesmo sentimento foi ecoado na mensagem em vídeo gravada pelo primeiro-ministro de Vanuatu, Jotham Napat. “Promessas sozinhas não podem recuperar o que a mudança climática já apagou pelo mundo”, disse, citado pela CarbonCopy.
A pressão coincide com o lançamento da campanha global Fill the Fund, apoiada por ONGs que exigem que nações ricas honrem seus compromissos. Apenas US$348 milhões de um total de US$789 milhões prometidos foram depositados, gerando preocupação entre representantes de países em desenvolvimento. Alguns doadores, como Itália e União Europeia (UE), nem sequer definiram prazos para seus aportes.
O valor disponível é considerado insuficiente diante das necessidades de centenas de bilhões de dólares anuais devido a eventos extremos. Durante reunião nas Filipinas, um representante de Fiji comparou os recursos atuais a “dinheiro de limonada”- insignificante perto dos custos de grandes infraestruturas, como usinas de carvão.
“À primeira vista, a escala do fundo pode parecer grande, mas não é, especialmente quando comparada aos US$500 bilhões gastos em subsídios a combustíveis fósseis ou aos US$2,7 trilhões em gastos militares”, disse Brandon Wu, diretor de políticas e campanhas da ActionAid USA.
Para aumentar os recursos, o fundo planeja finalizar uma estratégia de mobilização até o final de 2025. Enquanto isso, projetos iniciais de US$5 a US$20 milhões serão financiados via editais. No entanto, a escassez de verbas levou a secretaria do Fundo a sugerir a priorização de projetos que atraiam capital privado, proposta rejeitada por nações em desenvolvimento e ativistas.
Representantes do Egito e da CAN International alertaram que o fundo não deve funcionar como um banco ou mecanismo de investimento, mas sim como um instrumento de solidariedade. Eles criticaram a influência de modelos do Banco Mundial, temendo que a lógica de “alavancagem financeira” desviasse o foco das vítimas da crise climática.
Climate Home e VBTC, entre outros, trataram dos avanços nas tratativas sobre a operação do Fundo de Resposta a Perdas e Danos.
Em tempo: Paul Kabai e Pabai Pabai, anciãos das ilhas do Estreito de Torres, enfrentam o governo australiano em um caso histórico, podendo definir o futuro de suas comunidades ameaçadas pela crise climática. Com praias em desaparecimento, cemitérios alagados e tradições se esvaindo com o avanço do mar, os líderes buscam na Justiça uma ordem para que o país adote medidas concretas - incluindo cortes drásticos de emissões. A decisão, esperada para esta semana, não é apenas sobre paredões de contenção ou metas climáticas, mas sobre evitar que um povo inteiro seja arrancado à revelia de seu território. A reportagem é do Guardian.



