ANTT quer destravar Ferrogrão e projeta leilão em 2026

Ferrovia cortará áreas de alta sensibilidade socioambiental e enfrenta disputa judicial, técnica e política entre indígenas e governo.
12 de agosto de 2025
indígenas contra Ferrogrão
Reprodução Viviane Borari e Kamila Sampaio

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) enviará até novembro estudos complementares ao Tribunal de Contas da União (TCU) sobre o projeto da Ferrogrão, ferrovia prevista para ser construída entre Mato Grosso e o Pará. Após análise da corte, o passo seguinte é publicar o edital do leilão da ferrovia, o que deve ocorrer em 2026.

A previsão foi dada pelo diretor-geral interino da ANTT, Guilherme Sampaio. Ele participou na semana passada de um evento sobre ferrovias da Confederação de Agricultura e Pecuária (CNA) e Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), informam Folha e Agência Infra.

Na entrada do evento, indígenas Kayapó da Terra Indígena Baú de Novo Progresso (PA), e Panará da TI Panará de Guarantã do Norte (MT), protestaram contra a Ferrogrão, relata a Veja. Eles integraram o grupo de trabalho do Ministério dos Transportes para discutir o projeto, mas se retiraram do processo. Reclamam do traçado passar próximo a seus territórios e da dificuldade de diálogo com órgãos responsáveis.

Em julho, o Instituto Kabu, representando 18 comunidades indígenas Kayapó e Panará, ingressou com uma ação civil pública contra a ANTT, alegando que o processo de concessão da ferrovia foi conduzido sem a devida consulta aos Povos Originários. As entidades também pedem uma indenização por dano moral coletivo de R$ 1,7 bilhão – o projeto é avaliado em R$ 34 bilhões.

Coincidentemente ou não, o seminário da CNA e da ABIOVE ocorreu poucos dias antes do presidente Lula publicar seus 63 vetos ao PL da Devastação (2.159/2021). Lula tirou do texto a Licença Ambiental Especial (LAE), mas a incluiu modificada numa medida provisória. Com a LAE, a Ferrogrão poderá ser avaliada como “estratégica” pelo conselho governamental e terá direito ao “licenciamento express” de um ano.

A ferrovia enfrenta resistências devido a seus impactos socioambientais, e teve o lançamento de seu edital e leilão adiados inúmeras vezes por vários governos. Seu traçado de 940 km, entre Sinop (MT) e Miritituba (PA), corta áreas de alta sensibilidade socioambiental. O projeto enfrenta disputa judicial, técnica e política opondo comunidades indígenas e especialistas em clima e meio ambiente de um lado, e o governo federal do outro.

O governo federal ainda aguarda a manifestação do Supremo Tribunal Federal (STF) para seguir com o projeto incluído no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lembra O Globo. A Ferrogrão foi questionada na Corte pelo PSOL por cortar o Parque Nacional do Jamanxim, no Pará, e também por seu impacto sobre Terras Indígenas.

Estadão e Poder 360 também noticiaram o cronograma da ANTT para a Ferrogrão.

  • Em tempo: O linhão de transmissão de energia elétrica entre Manaus (AM) e Boa Vista (RR) segue o curso da rodovia BR-174 e tem seu ponto mais importante e delicado ao cruzar a Terra Indígena Waimiri Atroari, onde vive o Povo Kinja. Serão erguidas 237 torres no território, algumas com quase 100 m de altura, por 122 km de extensão. Grandes empreendimentos da ditadura militar tocados sem qualquer consulta ao Povo Kinja, como a própria BR-174 e a hidrelétrica de Balbina, quase dizimaram aquela população. Por isso os indígenas resistiram ao projeto, o que paralisou as obras por anos. Agora assumiram protagonismo real na fiscalização das obras, monitorando os passos de pessoas estranhas ao lugar e propondo alterações de rota, quando possível, um modelo de gestão não visto em outros projetos na Amazônia, segundo a Folha. "A gente sofreu muita ameaça no começo dos estudos, pois diziam que a gente era um obstáculo, que atrapalhava. O que a gente queria era entender. E, se o linhão passaria aqui, então era preciso ouvir o povo do local", contou Marcelo, um dos coordenadores da equipe de fiscalização dos indígenas.

Continue lendo

Assine Nossa Newsletter

Fique por dentro dos muitos assuntos relacionados às mudanças climáticas

Em foco

Aprenda mais sobre

Desafios e soluções

Aqui você terá acesso a conteúdo que permitirão compreender as consequências das mudanças climáticas, sob os pontos de vista econômico, político e social, e aprenderá mais sobre quais são os diferentes desafios e as possíveis soluções para a crise climática.
15 Aulas — 7h Total
Iniciar