
Comunidades Tradicionais do Cerrado estão buscando garantir espaço para o segundo maior bioma brasileiro na COP30. Até sábado (13/9), elas se reúnem no 11º Encontro dos Povos, em Brasília, para analisar os atuais desafios na região, como desmatamento, conflitos agrários e preservação das águas. O balanço deve ser levado para a Conferência do Clima.
“Não dá para tratar o cerrado como segunda opção. Sem o cerrado, não há amazônia”, disse Hiparidi Top’tiro, vice-coordenador da Rede Cerrado e integrante do Movimento das Organizações e Povos Indígenas do Cerrado (MOPIC), à Folha.
O Cerrado ocupa um quarto do território brasileiro e abastece oito das 12 regiões hidrográficas do país. Mesmo sendo a savana mais biodiversa do mundo, mais da metade de sua vegetação já foi desmatada. O volume de água transportada pelos seus rios – que abastecem bacias como da Amazônia, do São Francisco e do Paraguai – diminuiu 27% desde 1970, segundo estudo da Ambiental Media.
O bioma também sofre com outros problemas, como conflitos fundiários, descaracterização da biodiversidade e invasão de espécies exóticas. No entanto, o Congresso Nacional parece pouco interessado nesses desafios: dos 30 mil projetos em tramitação no Legislativo, apenas oito preveem ações para a preservação do bioma, como destacou o Brasil de Fato.
A falta de cumprimento da legislação para controle do desmatamento também é pautada pelas organizações – que buscam colocar em debate a implementação de leis internacionais que combatam o desmatamento associado às cadeias de commodities.
“A agricultura se expandiu, principalmente, nas áreas planas, das chapadas. Hoje, o que a gente tem de remanescente da vegetação nativa são áreas acidentadas, que a agricultura não consegue aproveitar. Não consegue botar um trator, por causa do relevo acentuado”, afirmou o doutor em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília (UnB), Christian Della Giustina, ao Correio Braziliense.
O Cerrado é fundamental para se enfrentar as mudanças climáticas, lembrou o Brasil de Fato. Sendo um bioma essencial para a manutenção do regime hídrico do país e da América do Sul, o fortalecimento das políticas públicas é essencial. O presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (PROAM), Carlos Bocuhy, defende que a política de contenção de queimadas seja mais efetiva. Ele cita, por exemplo, a criação de um corpo de combate a incêndios no bioma, que permita atuação preventiva com maior monitoramento.



