Só um terço das NDCs apoia a eliminação dos combustíveis fósseis

Em suas metas climáticas para 2035, vários países contrariam a ciência e sinalizam um aumento da produção ou uso de combustíveis fósseis.
24 de outubro de 2025
usinas eólicas e solares geram impactos socioambientais na bahia
Roque de Sá/Agência Senado

A COP30 terá um longo caminho para se tornar a “COP da Implementação”, como almeja o governo brasileiro. Uma análise do Carbon Brief sobre as 63 Contribuições Nacionalmente Determinadas (NCDs) apresentadas à ONU até o momento mostra que apenas 23 delas, pouco mais de um terço, expressam apoio à eliminação gradual da dependência dos combustíveis fósseis.

Entre os países que se comprometem com a transição além de petróleo, gás e carvão acordada na COP28, em Dubai, em 2023, estão Austrália, Colômbia, Islândia, Reino Unido, Singapura e Vanuatu. Mas, do outro lado, há quem use seus planos climáticos para se comprometer a aumentar a produção de gás, como Nigéria, Marrocos e Rússia, classificando-o como um “combustível de transição” – o que não é verdade.

Essa lorota é antiga, mas ela ganhou força na COP28. Na época, a Rússia pressionou – com sucesso – para inserir um parágrafo no Balanço Global (Global Stocktake, ou GST) dizendo que “os combustíveis de transição podem desempenhar um papel na facilitação da transição energética, garantindo ao mesmo tempo a segurança energética”. Assim, juntou a fome com a vontade de queimar gás.

Já a Nigéria, 2º maior emissor de gases-estufa da África, afirma na sua NDC que depende fortemente da indústria de petróleo e gás e que o setor irá crescer “adotando medidas de sustentabilidade” – outro argumento falacioso, tendo em vista que, se houvesse combustível fóssil sustentável, não estaríamos com o planeta quase batendo o limite de aquecimento de 1,5oC do Acordo de Paris.

O Brasil, que aprovou a exploração de petróleo e gás na Foz do Amazonas nesta semana, é um dos países que reconhece e se compromete a transicionar para uma economia de baixo carbono. No entanto, um relatório lançado na 4ª feira (22/10) pelo Instituto Talanoa aponta que o Plano Clima tem lacunas relevantes nessa direção, como a falta de um roteiro de execução claro para se afastar dos combustíveis fósseis.

Para o Talanoa, o país não sinaliza uma transição energética de fato e se mostra dependente do petróleo, contam Valor e Exame. Prova disso é a projeção de aumento nas emissões da produção de energia, indústria e transportes até 2035.

Das 41 áreas de políticas públicas relacionadas ao clima analisadas, o estudo conclui que o Brasil, em 2024, avançou em 21 delas; avançou pouco em 15 delas; não avançou em três; e retrocedeu em duas. “O Brasil sedia a COP30 num momento dramático, quando o mundo está muito perto do limite de 1,5°C de aumento da temperatura do planeta. E o Brasil tem responsabilidade nisso como 6º maior emissor de gases de efeito estufa”, afirma Marta Salomon, especialista sênior do Instituto Talanoa, no Projeto Colabora.

A Amazônia simboliza o paradoxo do anfitrião da COP30, sendo palco de um cabo de guerra entre preservação e exploração de combustíveis fósseis que se torna cada vez mais evidente, reflete a Dialogue Earth. Analista de clima e geociências do Instituto Internacional Arayara, Joubert Marques descreve o bioma como ativo geopolítico. “Quando se trata de estratégia – especialmente na busca por financiamento – os governos adotam um discurso pró-conservação. Mas esse discurso parece desaparecer quando se trata de petróleo e gás”, afirmou.

  • Em tempo 1: Em um novo leilão de áreas de petróleo e gás do pré-sal sob o modelo de partilha da produção, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) vendeu cinco dos sete blocos em 40 minutos, provando que a expansão dos combustíveis fósseis segue a todo vapor, avalia o site The Conversation. Petrobras e Equinor compraram duas áreas cada isoladamente, e um dos blocos foi comprado por um consórcio entre as empresas. A venda rendeu R$ 452 milhões em bônus de assinatura, informam Valor e Times Brasil.

  • Em tempo 2: Sessenta e sete sobreviventes da tempestade mais forte a atingir as Filipinas em 2021 estão processando a Shell nos tribunais do Reino Unido. Trata-se de uma ação judicial sem precedentes no país e no mundo, sendo a primeira ação civil a vincular diretamente empresas poluidoras a mortes e ferimentos pessoais já ocorridos no Hemisfério Sul - outros processos climáticos até agora se concentraram em danos e riscos futuros, explica o Guardian. O Tufão Rai, também conhecido como Supertufão Odette, matou mais de 400 pessoas, desabrigou quase 3,2 milhões e destruiu mais de 1 milhão de casas.

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