Uma década após tragédia de Mariana, atingidos relatam perda de convívio e tradições

Dirigente do MAB critica impunidade e alerta para contaminação persistente no rio Doce; reparação não foi suficiente para reverter danos.
4 de novembro de 2025
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BHP/Divulgação

O reassentamento de Bento Rodrigues, a cerca de 24 km do centro de Mariana (MG), reúne parte dos atingidos que moravam no antigo subdistrito atingido há 10 anos pela lama da barragem de Fundão, que pertencia à Samarco, controlada pelas mineradoras Vale e BHP. A tragédia que matou 19 pessoas é considerada o maior desastre ambiental do país.

Em cerca de uma hora no local, a Folha avistou quatro pessoas transitando pelas ruas. Para os moradores ouvidos, a situação não é incomum e representa uma nova realidade dos atingidos: a identificação e o senso de comunidade que existiam no “Bento de origem” não se repetem no reassentamento, uma espécie de subúrbio construído pela Fundação Renova, mostra a Folha. A entidade foi criada para gerir os recursos de reparação da tragédia e desmobilizada a partir do acordo de repactuação assinado no ano passado. Suas obrigações passaram a ser da Samarco.

Mas a tragédia em Mariana não se resume a Bento Rodrigues. Desde que recebeu uma avalanche de rejeitos de mineração, o rio Doce mudou. A tragédia favoreceu o avanço de espécies exóticas, em detrimento das nativas, e a bacia ficou mais pobre em biodiversidade, informa o g1.

Segundo especialistas, as ações de reparação ambiental executadas nos últimos 10 anos não foram suficientes para reverter os danos na bacia do rio Doce. Pelo contrário: elas podem estar contribuindo para a perda de variedade da fauna e da flora nos locais afetados.

O desastre contaminou quase 700 km do rio, entre Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia, já que os dejetos avançaram pelo mar, e segue sem responsáveis condenados – o que, para o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), é um símbolo da impunidade das mineradoras no país, destaca o Brasil de Fato.

“As mineradoras ainda não foram responsabilizadas criminalmente, apesar das 20 pessoas que elas assassinaram e da contaminação dos quase 700 km de rio”, afirmou Pedro Gonzaga, da coordenação estadual do MAB em Minas Gerais. “Veremos, mais uma vez, o Judiciário de olhos fechados frente ao maior crime ambiental do país, um fato que incentiva as empresas a seguirem essa lógica do sistema capitalista de lucro acima da vida, em que os crimes para elas compensam financeiramente”, lamentou.

Enquanto isso, a Vale, que foi multada por deduzir indenizações que pagou por Mariana do imposto de renda, debocha. Segundo a Folha, o vice-presidente para Assuntos Jurídicos da Vale, Sami Arap, fez um discurso cheio de provocações sobre os investimentos da mineradora em transição energética. Arap disse que a empresa é a “mais efetiva do mundo em proteção ambiental” em evento do Lide, grupo empresarial do ex-governador de São Paulo, João Doria, em Londres. Os 19 mortos de Mariana certamente não concordam.

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