Quem é quem no lobby do plástico em Brasília

Indústria age para travar debate sobre redução da produção do material; poluição por plástico é a segunda maior ameaça ambiental ao planeta.
1 de dezembro de 2025
lobby do plástico em brasília
Rodrigo Bento/Repórter Brasil

Um poderoso e silencioso lobby em Brasília trava a adoção de medidas contra a poluição por plástico no país, mostra investigação da Repórter Brasil. O material é a segunda maior ameaça ambiental ao planeta, ficando atrás apenas da crise climática, segundo a ONU. Somente o Brasil despeja anualmente mais de 1 milhão de toneladas de resíduos plásticos nos oceanos – 8% do total global.

A reportagem traz os nomes e rostos de quem age para barrar legislações que restringem a fabricação de plásticos de uso único. No Legislativo, os senadores Otto Alencar (PSD) e Jaques Wagner (PT) são notórios entusiastas do Polo Petroquímico de Camaçari, na Bahia, um dos maiores produtores de plástico do país.

Alencar recebeu doações de R$ 320 mil da Coca-Cola e R$ 1,2 milhão de outras associadas da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas não Alcoólicas (ABIR) para a corrida eleitoral de 2014, que o levou pela primeira vez ao Senado. Juntas, as duas contribuições representaram um quarto dos gastos da campanha.

Outra figura de destaque no lobby do plástico é o senador licenciado Vanderlan Cardoso (PSD/GO). Sua campanha à prefeitura de Goiânia em 2024 – ele foi derrotado nas eleições – recebeu R$ 90 mil de empresários do ramo de embalagens.

No Executivo, a indústria encontra espaço com interlocutores do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), comandado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin. São nomes como os de Lucas Ramalho Maciel, secretário adjunto de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria, e Washington Bonini, responsável por ordenar a retirada de uma proposta brasileira para limitar a produção de determinados materiais nas negociações do tratado global da ONU sobre poluição plástica, em novembro de 2024.

O porta-voz mais conhecido do setor em Brasília é André Passos Cordeiro, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), que tem relação próxima com o PT, especialmente no Rio Grande do Sul, tendo ocupado cargos importantes do partido nas três esferas. Entre 2024 e 2025, ele participou da elaboração do Plano Nacional de Economia Circular, alinhando o texto final com a visão da indústria e deixando de lado qualquer menção à necessidade de redução de plásticos.

Hoje, tramitam no Congresso Nacional pelo menos 41 projetos de lei que propõem limitar ou regular o uso do plástico. O PL 2524, que proíbe “a fabricação, a importação, a distribuição, o uso e a comercialização” de produtos plásticos descartáveis, é um exemplo simbólico: foi aprovado na Comissão de Assuntos Sociais do Senado e está parado há 20 meses na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), sob relatoria de Otto Alencar.

A poluição plástica não pode ser contida com práticas de reciclagem, pois não atingem o cerne desta crise: a contínua produção em excesso de plástico. “O problema da poluição de plástico é como uma banheira cheia e transbordando água. Não adianta você ficar tirando água com um balde se você não fechar a torneira”, compara Paula Johns, da ACT Promoção da Saúde.

E os impactos dessa poluição não se limitam ao ambiente local. Um recente estudo do Instituto Oceanográfico (IO) da USP indicou que a maior parte dos microplásticos liberados no estuário de Santos, no litoral paulista, acaba em mar aberto, alcançando as correntes marítimas e se espalhando ao longo da costa, o que amplia o seu estrago. Cerca de 68% das partículas ficam no estuário, 23% vão para mar aberto e apenas 9% se acumulam no fundo ou nas margens do estuário, conta o Valor.

Em períodos de mar calmo, essas partículas têm mais chances de serem absorvidas por organismos vivos, como esponjas, moluscos e pequenos peixes, o que impacta a cadeia alimentar. Essa permanência dos plásticos no meio ambiente é um dos fatores mais preocupantes.Uma pesquisa da Universidade Queen Mary de Londres mostra que mesmo que parassem de despejar plástico no oceano imediatamente, seus fragmentos continuariam a poluir a superfície do oceano e a liberar microplásticos durante mais de um século. Mesmo após 100 anos, cerca de 10% dos plásticos originais ainda podem ser encontrados na superfície, destaca o Meteored.

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